terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Parada: São Gabriel da Cachoeira

Buenas meus caros! Chegamos (Aline e eu) a São Gabriel da Cachoeira no sábado à noite, num total de 28 horas de viagem de barco Rio Negro acima. Viemos em uma embarcação mais rápida, "barco expresso", que leva menos passageiros e menos carga e tem a aparência de uma lancha. A passagem é um pouquinho mais cara (R$ 300 contra R$ 220 na rede do barco normal), porém, o tempo gasto é infinitamente menor.


A viagem padrão leva de quatro a cinco dias. Como já passei algum tempo por aqui navegando, optei pela rapidez, o que não impediu em nada a apreciação da bela paisagem. O desenho composto pelo Rio Negro e suas águas obviamente escuras contrastantes com a floresta, de um verde muito vivo, é de encher os olhos. Coisa linda!


O barco atraca em um porto distante 30 minutos de carro da cidade (táxi: R$ 35), pois as pedras impedem as embarcações de alcançarem a orla que banha o município. O Rio Negro tem dois humores bem definidos. Após horas de águas tranquilas, que formam um genuíno espelho d´água (vide fotos), pedras enormes se fazem presentes e corredeiras começam a pipocar pelo leito do Negro.

Nessa época, segundo os locais, as pedras deveriam ser mais visíveis, assim como várias praias. Mas, neste ano, o Negro está mais cheio que de costume, fenômeno que, infelizmente, não tenho bases para explicar. Nem eles.

Uma curiosidade: os rios amazônicos têm ciclos distintos. Enquanto na parte sul da região a cheia ocorre entre novembro e junho, no norte esse período é marcado pela seca, pelas águas baixas. Obviamente os rios do norte enchem no período compreendido entre julho e novembro. São Gabriel da Cachoeira está bem no norte, noroeste diria, da Amazônia.

Como era de se esperar, o calor aqui pega pra valer. Estou a exatos 25 km da linha do equador. O Sol escaldante é abrandado pelas chuvas diárias, que proporcionam minutos de frescor no caldeirão de umidade formado pela floresta. No entanto, já me acostumei ao clima local e não me incomodo mais com o bafo verde.

Falando da cidade em si, num primeiro momento o choque é inevitável. Os habitantes locais são índios em sua maioria, como já havia adiantado. São Gabriel é o município com a maior população indígena comprovada do país, 85% dos habitantes. A cidade tem quatro línguas oficiais: o português e as indígenas nheengatu, tukano e baniwa. Andando pela rua é fácil escutar os locais conversarem em suas respectivas línguas. Alguns têm inclusive dificuldade com o português.

A recepção aqui não foi calorosa, definitivamente. Não que nos tenha acontecido algum contratempo, longe disso, mas os olhares desconfiados e as expressões carregadas podem causar uma má impressão num primeiro momento. Como não poderia deixar de ser, há exceções que dão vida a alguns bons dias e escassos bate-papos. Mas é o jeito local, é preciso se habituar a ele.

Os índios, desde a chegada dos brancos, não tiveram e não têm vida mole. O cenário de suas vitórias e derrotas é colorido pela guerra, seja ela travada com as armas ou com a política. Eles foram obrigados a lutar para não serem extintos. Agora, lutam para obterem os mínimos direitos de um dito cidadão. Assim, é natural a desconfiança que nutrem em relação ao branco.

Nas conversas que tive por aqui, alguns afirmam que a vida era melhor antes da chegada do Exército. Outros pensam que as condições de vida melhoraram, como nas áreas da saúde e educação. É difícil defender uma posição com tão pouco tempo de vivência na cidade, por isso me abstenho de comentários sobre a refrega.

O que se percebe é que os índios se perdem facilmente quando passam a imitar um costume dos brancos: a ingestão de álcool. São muitos os que perdem o dia bêbados, deixando de lado sua raiz e assemelhando-se a um bebum qualquer, desses encontrados com facilidade em qualquer cidade convencional de nosso Brasil. É terminantemente proibido portar e oferecer álcool aos índios que vivem nas aldeias ou comunidades próximas a São Gabriel da Cachoeira, sendo a cadeia a pena para tal infração.

São Gabriel da Cachoeira é considerada ponto estratégico do Brasil, classificada como Área de Segurança Nacional, por fazer fronteira com Colômbia e Venezuela. Aqui situa-se a 2ª Brigada de Infantaria de Selva. Vocês conhecem essa Brigada, provavelmente já ouviram algo sobre a maestria de nossas Forças Armadas no combate de selva. Aqui é onde são realizados a maioria desses treinamentos. Que fique claro, a área da cidade não é fronteiriça a esses países, mas seu território, muito extenso, sim.

Tentaremos visitar uma comunidade indígena até sexta-feira, data de nosso retorno para Manaus. Para tal é necessário um contato com a FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e uma autorização da FUNAI (Fundação Nacional do Índio). A visita não é gratuita e receio que o valor possa ser proibitivo, o que seria uma pena.

Estamos hospedados em um hotel do Exército, hotel de trânsito para oficiais, que recentemente foi aberto ao público em geral. As diárias para casal custam R$ 60 (café da manhã incluso), e a estrutura oferecida conta com piscina, sauna, um mirante espetacular e muita tranquilidade, pois estamos sozinhos na hospedagem. Vejam as fotos da vista que nos abraça ao acordamos.

Pela manhã, várias canoas chegam à praia da cidade, trazendo índios de dezenas de comunidades que margeiam o Rio Negro. É o único serviço de transporte da região, e o mais utilizado da Amazônia, como já foi dito em outros posts. Escrevo aqui uma frase interessante que escutei, diferenciando os acreanos dos amazonenses: "O povo do Acre é o senhor das matas, enquanto o do Amazonas é o rei dos rios". Segundo me disseram, não há mateiros como os acreanos, conhecedores dos perigos e regalos da floresta como poucos. Já os amazonenses vivem em função dos rios, eles são sua fonte de comida, sua base de transporte, seu depositário de mitos.

Nos próximos posts falarei um pouco mais sobre São Gabriel da Cachoeira, além de relatar minha passagem pelo arquipélago de Anavilhanas, pelas matas e cachoeiras de Presidente Figueiredo e por Manaus, ponto de encontro das águas do Rio Negro e do Solimões, um espetáculo esplendoroso.

Até a próxima!

7 comentários:

Guilherme Guedes (Guedão) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Bom saber de vc... e bom saber que tá td beleza aí! Boa sorte com tudo, e aproveite. Sempre que houver atualizações, estarei pronto para tomar conhecimento. Um grande abraço e desejos de que tudo dê certo,
Guedão.

Unknown disse...

Olá, estava procurando mais informações sobre São Gabriel da Cachoeira, e me deparei com seu belo post. Gostaria de saber mais sobre essa viagem de barco, pois pelo que parece a Trip não fará mais voos para lá. Obrigado, e parabéns pelo blog.

Anônimo disse...

Rapaziada
Tô indo trabalhar em São Gabriel! Acho que preciso de informação sobre estadia na cidade. Vou ficar até o fim do ano por lá! Será que vocês podem me ajudar com essa informação?
Luiz
luiz_silva03@yahoo.com.br

Léo disse...

Olá!
Navegando na net, procurando infos de São Gabriel, vim parar aqui (também, como muitos...rrs). Eita lugar sem informação fácil hein... rs
No momento gostaria de saber qual foi o barco (qual empresa) que utilizou pra ir de Manaus pra São Gabriel. Existe algum site? Telefone pra ligar? Pra saber horários, preços, etc...
Desde já agradeço. Se puder responder para meu email também, agradeço: leorodrigue@bol.com.br
Abraço!
Léo

Anônimo disse...

Olá, estou indo para são Gabriel da cachoeira.
Gostaria de saber mais informações sobre o barco que posso pegar de manaus-são Gabriel e os valores,pois nunca fui rsrsrs...

Mikaelly@atcgo.com.br

No aguardo, obrigada

Anônimo disse...

Olá, estou indo para são Gabriel da cachoeira.
Gostaria de saber mais informações sobre o barco que posso pegar de manaus-são Gabriel e os valores,pois nunca fui rsrsrs...

Mikaelly@atcgo.com.br

No aguardo, obrigada