Meu Deus, em plena disputa do segundo turno na capital, acirrada como um Galo e Cruzeiro, o Grande Jornal dos Mineiros (só se for em número de páginas, pois na decência e na ética jornalística, principalmente quando o assunto é política, o EM é pequeno, minúsculo, um verme diria) solta uma entrevista com Aécio pedindo votos para Lacerda. Isso mesmo, um jornal, no calor da campanha, publica uma entrevista com o governador pedindo votos para um determinado candidato. A entrevista, que mais parece um chá das cinco entre velhas beatas de tão amena, não traz nada de novo, nada, apenas Aécio pedindo votos. Não sei se a lei proíbe tal prática, mas certamente as regras do bom jornalismo a proíbe.
Fica claro que não há igualdade na cobertura da eleição. Fica mais claro ainda quando a página do jornal é virada.
Em outra matéria da mesma edição, "Alliados de Última Hora", o jornal mira os apoiadores que Leonardo Quintão, o outro candidato na disputa, arrebanhou.
O EM chega mesmo a fazer fofoca. No texto, o jornal diz que “há cerca de duas semanas, o candidato [Leonardo Quintão] foi visto num restaurante da capital na companhia de Pedro Magalhães, irmão do deputado federal João Magalhães (PMDB-MG), investigado por envolvimento na Operação João-de-Barro, da Polícia Federal, que investiga suspeita do desvio de cerca de R$ 700 milhões em verbas públicas que seriam aplicadas em obras do governo federal.” Um pouco antes, afirma que Quintão “parece ter adotado a velha tática política de “apoio oferecido não pode ser negado, seja qual for”, e corre o risco de sair chamuscado das urnas”.
Ora, desde quando um encontro num restaurante pode servir de embasamento para uma matéria? Quintão foi visto por quem? Estava com um Irmão de um deputado federal envolvido em um esquema? Mas o irmão do deputado também estava envolvido, ou só o fato de ser irmão já o faz culpado?
É óbvio, o encontro levanta suspeitas. Mas publicar tal notícia para simplesmente fazer ilações, sem nenhuma apuração, sem nenhum aprofundamento ou investigação, é demais. Isso não é jornalismo, isso é jogo entre compadres.
No início da matéria o jornal aponta o apoio de Aécio e Fernando Pimentel, prefeito da capital, a Márcio Lacerda. Dois políticos com avaliação em alta, dando um cunho positivo à candidatura governista. E, pior, a candidatura de Lacerda é a que engloba o maior número de partidos, com uma gama de políticos bem heterodoxa, mas o jornal não se preocupou em apurar as falcatruas daqueles que estão do Lacerda.
Declaro não ser simpatizante de nenhum dos dois candidatos, pois a meu ver nenhum deles merece ser o representante de ninguém. Mas sou partidário radical do bom jornalismo, da correção absoluta na produção de notícias. Daí minha indignação. Não é aceitável que o jornal mais popular das Gerais aja acima da moral e da ética. O problema é que isso ocorre há muito tempo e não há nada no horizonte que aponte para uma mudança de rumos. Lamentável.