domingo, 12 de outubro de 2008

O "pequeno" jornal dos mineiros


Uma vergonha. Assim classifico a edição do Estado de Minas de hoje. Declaradamente, o maior jornal de Minas entrou na campanha eleitoral. A favor, logicamente, de Márcio Lacerda, candidato abençoado pelas mãos de Aécio Neves, o reizinho do pão de queijo que insiste em mostrar-se como um político moderno. Que nada!, não passa de um carrasco da imprensa, emparedando veículos e eliminando o contraditório da vida dos mineiros. O cidadão que se pauta exclusivamente pela imprensa mineira tem a impressão de que vivemos em um paraíso, o que não é verdade.

Meu Deus, em plena disputa do segundo turno na capital, acirrada como um Galo e Cruzeiro, o Grande Jornal dos Mineiros (só se for em número de páginas, pois na decência e na ética jornalística, principalmente quando o assunto é política, o EM é pequeno, minúsculo, um verme diria) solta uma entrevista com Aécio pedindo votos para Lacerda. Isso mesmo, um jornal, no calor da campanha, publica uma entrevista com o governador pedindo votos para um determinado candidato. A entrevista, que mais parece um chá das cinco entre velhas beatas de tão amena, não traz nada de novo, nada, apenas Aécio pedindo votos. Não sei se a lei proíbe tal prática, mas certamente as regras do bom jornalismo a proíbe.

Fica claro que não há igualdade na cobertura da eleição. Fica mais claro ainda quando a página do jornal é virada.

Em outra matéria da mesma edição, "Alliados de Última Hora", o jornal mira os apoiadores que Leonardo Quintão, o outro candidato na disputa, arrebanhou.

O EM chega mesmo a fazer fofoca. No texto, o jornal diz que “há cerca de duas semanas, o candidato [Leonardo Quintão] foi visto num restaurante da capital na companhia de Pedro Magalhães, irmão do deputado federal João Magalhães (PMDB-MG), investigado por envolvimento na Operação João-de-Barro, da Polícia Federal, que investiga suspeita do desvio de cerca de R$ 700 milhões em verbas públicas que seriam aplicadas em obras do governo federal.” Um pouco antes, afirma que Quintão “parece ter adotado a velha tática política de “apoio oferecido não pode ser negado, seja qual for”, e corre o risco de sair chamuscado das urnas”.

Ora, desde quando um encontro num restaurante pode servir de embasamento para uma matéria? Quintão foi visto por quem? Estava com um Irmão de um deputado federal envolvido em um esquema? Mas o irmão do deputado também estava envolvido, ou só o fato de ser irmão já o faz culpado?

É óbvio, o encontro levanta suspeitas. Mas publicar tal notícia para simplesmente fazer ilações, sem nenhuma apuração, sem nenhum aprofundamento ou investigação, é demais. Isso não é jornalismo, isso é jogo entre compadres.

No início da matéria o jornal aponta o apoio de Aécio e Fernando Pimentel, prefeito da capital, a Márcio Lacerda. Dois políticos com avaliação em alta, dando um cunho positivo à candidatura governista. E, pior, a candidatura de Lacerda é a que engloba o maior número de partidos, com uma gama de políticos bem heterodoxa, mas o jornal não se preocupou em apurar as falcatruas daqueles que estão do Lacerda.

Declaro não ser simpatizante de nenhum dos dois candidatos, pois a meu ver nenhum deles merece ser o representante de ninguém. Mas sou partidário radical do bom jornalismo, da correção absoluta na produção de notícias. Daí minha indignação. Não é aceitável que o jornal mais popular das Gerais aja acima da moral e da ética. O problema é que isso ocorre há muito tempo e não há nada no horizonte que aponte para uma mudança de rumos. Lamentável.

sábado, 11 de outubro de 2008

Trem bão




Para os milhares de interessados em visitar Rio Piracicaba, aconselho o trem (da Vale!) como transporte. Principal motivo: o cigarro é liberado. Além disso, é mais seguro, barato e pode-se avistar algumas paisagens bem agradáveis.
Posted by Picasa

Compañero


Este é o Paulinho, conterrâneo meu. Grande companheiro de copo. Sujeito consciente e concentrado, que proferiu uma das frases mais corretas que já escutei, algo que nem esperava: "Eu gosto de ler, e quando leio o personagem principal sou eu".
Posted by Picasa

De responsa


Mineradora pioneira de atuação global, a Vale tem o compromisso de transformar os recursos minerais em riqueza e desenvolvimento sustentável.

Há várias maneiras de dimensionar a importância que damos às questões sociais no exercício diário da empresa. Uma delas é por meio da Fundação Vale, que desenvolve programas em parceria com Organizações Não-Governamentais (ONGs), setores do poder público e sociedade civil, visando ao desenvolvimento econômico, ambiental e social das localidades onde atua.

Também investimos na conservação do meio ambiente e na reabilitação de espécies nativas dos ecossistemas da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia. Detentora de uma avançada tecnologia de reflorestamento e renovação do ciclo florestal, a Vale se destaca pelo investimento em competências técnicas nesta área, atuando em cinco dos sete biomas brasileiros.

Parabéns Vale, nunca duvidei disso. Inclusive fiz questão de retratar um de seus buracos para comprovar suas palavras.
Posted by Picasa

A noite sem estrelas


3h45 da madrugada em BH. Terça-feira. Nada acontece. E o ônibus não passará tão cedo. Resta esperar e arriscar uma foto. Apesar do sinal estar verde, cada vez mais a cidade estampa um sinal vermelho para aqueles que têm a certeza que o asfalto frio e inerte não propicia a evolução. Há que se dominar a mente, que insiste em gritar. Logo estarei em casa.
Posted by Picasa

Dica Cultural


Estes são Pássaro e Jão. Jão, ao fundo, é o proprietário do Café Bahia, um boteco com DNA legítimo, aberto diariamente no centro de BH. O ambiente preza pela freguesia de alto nível, o que pode ser percebido graças às lingüiças na estufa e ao litro de água da COPASA, oferecida gratuitamente, retratados na foto acima. A lingüiça é um dos petiscos mais lembrados pelos freqüentadores do Café, devido aos arrotos, obviamente. Jão é o típico chefe gente fina, sereno, preocupado somente com seu cigarro e seus clientes, mas nem tanto.

Pássaro, ou Passarinho, dependendo do grau de freqüência no estabelecimento, é o garçom do bar, um marco histórico. Pássaro conta que já presenciou de tudo nas mesas do Café do Bahia, mulheres bonitas com sujeitos feios, mulheres feias com mulheres bonitas, padres com ateus, viados com putas, travecos com esposas e por aí afora. Pássaro é uma testemunha ocular do pulso latente por onde corre o sangue da Belo Horizonte Lado B. Além disso, Pássaro conhece de cor 3.567 piadas, 2.489 tiradas e 5.768 frases feitas. Ele nunca serviu uma cerveja sem proferir algo sábio. Pela fisionomia do distinto vocês percebem o que relato.

Sempre que posso compareço ao Café Bahia. Faz bem para a cabeça e para a alma. Lugares entupidos de poses e trejeitos me assustam. Prefiro passar invisível em locais como esse. A conta nunca ultrapassa o limite, ninguém se preocupa com você e há a vantagem de, como brinde, o cliente ganhar uma aula de vida. Qual vida não sei, mas há algo ali de importante.

Visitem o Café Bahia e façam uma viagem ao centro do cotidiano, das pessoas comuns, dos despercebidos que sentam-se ao seu lado diariamente no ônibus e no metrô. Lá é possível sentir, mesmo que parcialmente, o que é viver fora da bolha de plástico.

Localização: Rua dos Tupis, pertinho do Shopping Cidade. Porém, o Café Bahia não cheira nem se assemelha ao centro comercial moderno, pelo contrário, é uma das últimas resistências à nova onda, que não passa de marola.
Posted by Picasa

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O cofre de Deus


Os católicos que freqüentam a Catedral Metropolitana de São Sebastião, em Ribeirão Preto (313 km de SP), terão novas opções para pagar o dízimo e outros serviços da igreja a partir desta segunda-feira (6): cartões de débito ou crédito. Folha Online


O papa Bento 16 disse na segunda-feira que a crise financeira global mostra que a fé em Deus é melhor do que passar a vida buscando riqueza material. "Vemos agora, no colapso dos grandes bancos, que o dinheiro desaparece, ele não é nada", disse o pontífice. Folha Online


Ah! Agora entendi.

Pau no nome


Preocupação

"Há apenas duas coisas com o que você deve se preocupar. Se você está bem ou se está doente. Se você está bem, não há nada com que se preocupar. Se você está doente, há duas coisas com que se preocupar. Se você vai se curar ou se vai morrer. Se você vai se curar, não há nada com que se preocupar. Se você vai morrer, há duas coisas com que se preocupar. Se você vai para o céu ou vai para o inferno. Se vai para o céu, não há nada com que se preocupar. Agora se você for para o inferno estará tão ocupado cumprimentando os velhos amigos que nem terá tempo de se preocupar. Então, pra que se preocupar?"

Provérbio Chinês

domingo, 28 de setembro de 2008

Pra boi dormir


Na crise financeira americana, que há meses ceifa o mercado e suas verdades, alguém quer nos fazer acreditar em mentirinhas. Em minhas mãos está a revista Veja, edição do dia 24 de setembro de 2008, que traz na capa: “Eu Salvei Você! O governo americano evita o colapso financeiro mundial e nunca mais Wall Street será a mesma”.

A capa reproduz a lendária imagem do velho Tio Sam, cartola e roupas nas cores da bandeira dos EUA e o dedo indicador quase a raspar nosso nariz. Bem, querem desvirtuar a realidade. Quem? Não sei exatamente quem, talvez o establishment financeiro mundial, todo ele vivendo hoje em dia nas bonitas e confortáveis coberturas de Manhattan, que a especulação e irresponsabilidade ajudaram a comprar.

Meu argumento é o seguinte: como assim os EUA salvaram o mundo? Então os derrotados são ao mesmo tempo os salvadores? Os EUA não salvaram ninguém, pelo contrário, foram salvos. Aliás, há muito tempo se agarram ao mundo para seguirem morando na rua das potências.

Primeiro ponto: o pacote de R$ 700 bilhões, que se visa adquirir os títulos podres dos bancos, sequer foi aprovado e a Veja, açodada como ela só, já trombeteia tal notícia. Segundo, é consenso entre economistas, ao menos entre os economistas sérios, que tal pacote não será capaz de salvar o querido mercado se não vier acompanhado de novas regras que garantam maior vigilância sobre o cassino financeiro mundial. Mas o argumento mais importante vem a seguir.

Há muito o mundo é o grande talão de cheques dos americanos. Eles gastam muito mais do que produzem, ou seja, são financiados pelos agentes econômicos globais. Esse crédito se fundamenta em uma variável muito simples: a confiança. O mundo confia que os EUA pagarão suas dívidas, assim não se preocupam em emprestar montanhas de recursos mesmo que os sinais apontem para uma situação insustentável já no médio prazo. Bush lançou o país num alucinante déficit fiscal (receitas menos despesas) após a sanha militarista e intervencionista tomar conta das cabeças brancas de Washington. As guerras contra o terror, no Afeganistão e Iraque, sugam dinheiro como um Opalão seis cilindros gasta gasolina.

E não só as guerras, mas também a nova configuração que se desenha na pele do mundo, tanto na paisagem política quanto econômica, aponta para um futuro em que os EUA não mais serão os donos da bola. A queda de nações hegemônicas não ocorre num sobressalto, este é um processo lento, constante e irrefreável. A confiança que há anos sustenta a economia americana, baseada fortemente no consumo das famílias, pode estar se aproximando da parada final.

Mais de dezesseis bancos dos EUA já pediram o chapéu. Alguns centenários, colossos que, imaginava-se, eram feitos de pedra, mas que agora deixam transparecer toda espuma que recheava seus organismos. A confiança do mundo no mercado está fortemente abalada e a confiança do mundo nos EUA pode seguir o mesmo caminho. O que garante o contrário?

Os solavancos de uma derrocada americana serão sentidos em todo o planeta, é óbvio, ante a complexidade e alcance de sua economia. Mas isso não significa que possa ocorrer um rearranjo na estrutura do mundo. Aliás, a história mostra que a reengenharia do modelo político-econômico e seus atores é uma constante.

Agora os EUA conseguirão os US$ 700 bilhões que oferecerão mais alguns minutos de oxigênio ao mercado, que está com a boca a um palmo d´água. Este dinheiro é público, conseguido via emissão de títulos, comprados por agentes do mercado de todo globo. Os títulos americanos são considerados de risco zero e financiam as atividades do país desde que o novo horizonte despertou. Na verdade, governos e investidores estrangeiros são realmente os financiadores do pacote que assoprará as feridas abertas pela derrocada do mercado imobiliário ianque. Os EUA não têm guardados debaixo do colchão tamanha quantia para gastar quando quiserem, da maneira que bem entenderem.

E agora a Veja e outros veículos de todo mundo querem enfiar-nos goela abaixo a carochinha de que os EUA salvarão o mundo, que agirão rápido para evitar uma catástrofe maior. Primeiro, a catástrofe já é enorme, e segundo, eles foram salvos. Não tem cabimento a lógica de transformar em vitoriosos os derrotados. Não dá pra engolir. E torço para que um novo panorama geopolítico brote no terreno esburacado pelas bombas vindas do mercado financeiro. Que partamos para um outro modelo, racional, centrado no desenvolvimento global, e não na engorda dos bolsos de alguns poucos barões que agora começam a definhar pela boca.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Gol Contra?


Túlio Maravilha, atacante do Vila Nova de Goiás, quer ser governador. Já é candidato a vereador, e pelo que se sabe, tem grandes chances de levar mais essa. Eu gosto do Túlio, um tipo de jogador com da estirpe de um Romário, sincero e falastrão, mas com um humor mais leve e descontraído, menos cáustico que o Baixinho. Mas o negócio já começou mal. Leiam as reproduções abaixo.


Consagrado pelos mais de 800 gols que fez, por 24 clubes e pela seleção brasileira, e também pelo estilo irreverente, o atacante se revela um dedicado discípulo do presidente Lula ao recorrer a metáforas futebolísticas para falar de suas pretensões políticas.

“O jogador quer ganhar títulos, ser artilheiro do campeonato, ser convocado para a seleção e jogar uma Copa do Mundo. Política é a mesma coisa; primeiro vereador, depois deputado estadual até chegar a governador”, adianta.

Repetindo o tom polêmico que o consagrou nos gramados, o candidato Túlio também causou surpresa ao declarar seu patrimônio à Justiça eleitoral. Apesar de ter passado por 24 clubes (veja quais) em 20 anos de carreira profissional, disse que não possui bens.

Declarou ter apenas “R$ 1” em sua posse. Onde está todo o patrimônio que acumulou nesse tempo de carreira? “Está tudo no nome da mulher, do filho, do pai. Não tenho nada em meu nome. O que eu quero nessa vida é amor”, afirma. E, claro, um dia, quem sabe, comandar o Palácio das Esmeraldas, o mesmo sonho que o presidente do Banco Central já manifestou. Meirelles não descarta a possibilidade de concorrer ao governo do estado natal assim que deixar o comando do BC.


O Túlio já aprendeu direitinho como deve se portar um bom político brasileio.

Play

Novo som à direita, sem viés político. Relaxem e deixem as ondas beijarem suas membranas timpônicas.

Frota Aeronaval



E o Brasil adentra a era da exploração cósmica! Assistam e vejam os bravos companheiros de Marcos Pontes, o primeiro astronauta verde e amarelo, irem até onde nenhum outro comparsa, digo, compatriota, ousou chegar. A única dúvida é no nome. Frota Aeronaval no espaço? Ah, claro, tripulação de poetas, navegantes do caldo azul sustentado pelo infinito.

Via Kibe Loco

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Um copo de vida

Ali, o ar era pesado como chumbo. Por mais que todas as janelas estivessem abertas o vento se recusava a entrar naquela casa, a atmosfera carregada do lugar impedia que novos ares oxigenassem o matadouro transformado em lar.

Aquele ar pestilento, aniquilador como a mão de um carrasco, saía da boca de um velho que há trinta anos fora jogado ali. Apenas o trancafiaram para que apodrecesse sem maiores questionamentos. Serviço engendrado pelo aparato oficial, com o carimbo de confidencial a prestar-lhe o necessário sigilo.

Na verdade, o velho fora declarado morto há trinta anos. E realmente estava, porém insistia em continuar respirando o veneno. Era um lutador, mas nem mesmo o mais corajoso dos titãs poderia derrubar o preconceito que o perseguia.

O pobre homem, transformado em demônio, era portador da hanseníase, na linguagem popular, lepra. Os dedos das mãos já bastante consumidos, como as rochas gastas pelos ventos de séculos, e a pela escamosa, de uma vermelhidão assustadora, afugentavam qualquer possibilidade de toque. Não se recordava mais do sabor dos lábios de uma mulher, sequer rememorava a última vez que alguém havia olhado em sua direção. Desde que fora jogado no lixo, tal qual restos de comida, o mundo lhe reservou o desprezo.

Os dias passavam, as lágrimas escorriam, as lembranças queimavam-lhe o estômago. Eu não tenho culpa, repetia para si mesmo. E realmente não era o culpado. Os inquisidores modernos haviam-no condenado antes mesmo de entenderem o que significava a lepra. Fincaram-lhe uma cruz de toneladas nas costas e há trinta anos a carregava sem se envergar.

Mas agora o cansaço cobriu-lhe os olhos, sua cabeça desistiu de continuar a pensar, esperava a morte física com toda a potência. A velhice, com lepra ou não, nunca esteve em seus planos. Desejava com ardor não mais acordar, que aquilo se encerrasse o mais rápido possível.
O velho, ansioso pelo golpe final, não imaginava que a vida seria capaz de surpreendê-lo novamente. Porém, a vida é uma artista capaz de surpreender até mesmo os Deuses que dela não precisam. E com o velho diabo não foi diferente.

Numa tarde qualquer, de um dia qualquer, uma jovem fez o serviço que o nem mesmo a fé conseguia mais. Ela soprou um fio de vida naquela casa.

Estava ali em busca de relatos, elaborava uma reportagem sobre a hanseníase, necessitava dos depoimentos daqueles que não queriam mais falar, pois compartilhar uma situação tão terrível quanto aquela não era nem um pouco agradável. E assim a campainha tocou.

Sem a menor vontade, o velho levantou-se da cadeira, a única coisa na terra que aceitava abraçar-lhe, e dirigiu-se até a porta. Abriu-a. A jovem estava lá parada e impressionou-se com a face desprovida de vida que avistou. Os olhos do homem esquecido há trinta anos eram opacos, semelhantes aos de um peixe morto. Ela hesitou, sentiu medo inclusive. Mas boa jornalista que era seguiu em frente e propôs a entrevista ao zumbi. Após alguns segundos de espera ele respondeu que iria falar.

Estava certo que aquela seria a última vez, pois enxergava com plena nitidez o caminhão dos desgarrados manobrando à sua porta. Falaria, pois queria julgar a humanidade e condená-la, assim como fora julgado e condenado sem o direito de defesa. Seria sua vingança.

Convidou a jovem a entrar, ofereceu-lhe uma cadeira. A jornalista, já um pouco cansada, pois aquela seria a sétima entrevista do dia, pediu água. Sem esperar pela resposta e após pedir licença, ela seguiu até a cozinha, pegou um copo, encheu com a água da torneira mesmo, bebeu o líquido em um só gole e voltou.

Deparou-se com o velho chorando, mas aquelas eram lágrimas de alegria. Ele a olhava com um ar de agradecimento, parecia que havia salvado sua vida. Aquela jovem havia se transformado em um anjo para o leproso. Ele repetia insistentemente, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado por me fazer humano novamente.

Ela não entendeu absolutamente nada, chegou até a pensar que a reação do velho era decorrente da oportunidade oferecida para que ele contasse sua história. Mas não era nada disso.

Após alguns minutos, um pouco mais calmo, o velho apertou sua mão, também sem pedir permissão, e libertou as palavras mais sinceras que já ecoaram pela Terra. Com a voz embargada, disse, há trinta anos ninguém tem a coragem de encostar a boca no mesmo copo que eu uso. Obrigado.

Após dois meses o velho hanseniano morreu. Mas em seu coração havia germinado uma esguia e frágil flor de esperança, fazendo-o acreditar novamente na possibilidade de um novo mundo para os que virão.

*Baseado em fatos reais.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Enoque, o cara!

No tempo de Enoque a revelação especial não era escrita, como a temos hoje na Bíblia. Deus falava diretamente, e o ensino era transmitido de pai para filho.

Lembra-se que após alguns anos Deus enviou o dilúvio para destruir toda a raça humana? Sabe porque? Devido ao nível de perversão e depravação que os homens haviam chegado, tal a maldade, crueldade, impureza e toda sorte de corrupção e violência que cometiam. Foi neste ambiente que viveu Enoque, foi neste ambiente que ele criou os seus muitos filhos, manteve comunhão com Deus e fez a sua vontade.

Enoque fez diferença no meio de uma geração pervertida e má. E tanto o mundo não o mereceu que Deus decidiu levá-lo para si, sem que ele experimentasse a morte. Ele ficaria melhor juntinho do Pai celestial.


Neste ponto te desafio com a seguinte reflexão: A nossa geração está melhor do que a de Enoque? Certamente que não! Os dias de hoje estão muito semelhantes aos dias dele. Mas, lá havia um Enoque a ser usado, e hoje, quem Deus vai usar?

Enoque viveu trezentos e sessenta e cinco anos antes de ser arrebatado e isso nos capacita a extrair algumas lições desta preciosa vida.

Primeira lição: Enoque pecou? A Bíblia diz que "todos pecaram" e que "não há um justo sequer". Certamente ele pecou. Se entendermos que ele viveu trezentos e sessenta e cinco anos.

Somente Adão e Jesus foram perfeitos. Adão, é claro, falhou. Portanto, só Jesus foi perfeito e imaculado.

Então, andar com Deus, fazer a vontade de Deus, agradar a Deus, não é viver sem pecar, isto seria impossível. Mas um elemento se destaca na vida de Enoque: A fé e a dependência de Deus no dia a dia, isso fez toda a diferença em relação aos demais.

Segunda lição: Enoque andou com Deus, trezentos e sessenta e cinco anos. É certo que não dá para viver tanto tempo nos dias atuais não é mesmo? Mas dá para viver trezentos e sessenta e cinco dias do ano com Deus, firmes, sem vacilar.

Somente dois homens tiveram o privilégio de ser trasladados sem provar a morte: Enoque e Elias. Seja um destes, vivendo como um Enoque de Deus em nossa geração.


Crentes.net

Só falo uma coisa: tive na casa de Enoque ontem. Amigão meu. Mais uma só: Adão é ou não é perfeito?

Vamos lá

"Onde está a cura? Onde está o milagre? Onde está a transformação? Onde está o ressuscitar mortos? Será que Deus Não tem mais prazer em operar milagres? Será que Deus mudou? Fiz essas perguntas para lhe chamar a atenção, mas eu tenho certeza que Deus ainda opera milagre em nosso meio. Nós é que mudamos, só pensamos em falar mal de igrejas, religião A ou B e nos relaxamos no buscar Deus. Amem". Crentes.net

Agora sim! Galo campeão!

O que pode ser feito?

Nada. Ou alguma coisa. Fazer alguma coisa em relação a algo, significa transformá-lo. Transformação exige análise, conhecimento, crítica, desejo, energia...

Patricia Canetti

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Para o alto


Leite e carne oriundos de crias de animais clonados estão se infiltrando aos poucos e sem alarde na cadeia de suprimento alimentar dos Estados Unidos.

O número de clones está crescendo e ninguém está monitorando a expansão das linhagens. Em janeiro, a Administração de Alimentos e Remédios dos EUA (FDA) declarou que produtos vindos de vacas, porcos e cabras clonados - e de suas crias originadas convencionalmente - não ameaçam a saúde.

Phil Lautner, dono de uma fazenda em Jefferson, Iowa, diz que há "vários anos" manda para abate reses geradas por matrizes clonadas. Ele disse que, no momento, possui entre 50 e 100 crias de reses clonadas.

"Não há a menor diferença entre clones, crias de clones e crias de animais não clonados", diz ele.
Valor Econômico


Lembro-me perfeitamente do anúncio da ovelha Dolly, primeiro momento de contato entre a clonagem e a grande massa. Até então, clone era coisa de cientista ou de filme, pensávamos. Mas eis que uma cabritinha branca, ou melhor, ovelhinha, invade nossas casas e tomamos conhecimento que o bicho-homem brinca muito seriamente de Deus. Olha só o que conseguimos realizar. É impressionante.


E agora, aquela tecnologia que no passado alimentou sonhos, mitos, previsões malucas, como clones de celebridades, gênios, heróis e vilões, agora alimenta os estômagos, literalmente. Em 11 anos assistimos o homem caminhar decidido a abandonar uma condição até então irrevogável: a dependência do ambiente natural, de maneira direta, para obtenção de alimento. Um salto evolutivo.


Como sempre, tudo que criamos traz consigo uma série de receios. O que faremos com esse novo milagre? É realmente inofensivo o consumo desses produtos? E o ambiente, saberá lidar com organismos modificados geneticamente de maneira harmoniosa? Sabe-se lá. Ou cá.


O que me impressionou foi a velocidade. Assim como o mapeamento do genoma humano. E outros milhares de avanços dos quais nem tomamos conhecimento. A indústria científica de ponta, que cria o futuro, é guardada como uma virgem. De suas travessuras só tomamos conhecimento quando já está casada. Dia desses já anunciaram o clone de um ser humano. Anúncio considerado mixuruca, pois ciência agregada à religião gera a perda de credibilidade, não sei se com razão ou não.


Segurem-se, o vôo do homem atinge um de seus picos. Onde chegaremos? Que ninguém ouse tentar adivinhar.

sábado, 23 de agosto de 2008

Boa



Nic Hess, via Blue Bus

O futuro

"A Anatel aprovou ontem o regulamento sobre o uso das redes de energia eletrica, de fornecimento de luz, para oferta de acesso a internet em alta velocidade. Seria um tipo de acesso alternativo ao que é oferecido pelas operadoras de telecomunicaçoes e uma opçao para levar a internet a regioes de dificil retorno econômico, porque estaria compartilhando infra-estruturas já existentes e a baixo custo. Segundo noticia da Gazeta Mercantil, as energéticas Eletropaulo, Celg (Goiás), Cemig (Minas Gerais), Copel (Paraná) e Light (Rio de Janeiro) já realizaram testes experimentais com sucesso". Blue Bus

Uma explicação


Não comemoro o fracasso do Brasil em Pequim. Foi lamentável. Mas também previsível. Excetuando-se dois ou três atletas que realmente falharam na reta final, e que dispunham de sólida chance de voltar ao Brasil com o ouro no peito, 99% de nossa delegação foi mesmo é passear em Pequim. E ao contrário do discurso recorrente, "o que falta são recursos", o que de fato ancora o país é a inexistência de um plano, uma política pública esportiva bem definida. Quem diz isso é o jornalista José Cruz. Segundo entrevista divulgada no Congresso em Foco, Cruz é um dos maiores conhecedores de política esportiva no Brasil, acompanhando a cozinha do Ministério do Esporte já há 15 anos. O jornalista cobriu duas olimpíadas (Seul e Sidney) e é subeditor de esporte do Correio Braziliense. Abaixo trechos da entrevista.

"Até o ano 2000 os investimentos públicos no esporte eram muito escassos. O que são investimentos públicos no esporte? Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Correios, Petrobras, Infraero, o orçamento público federal e, de outra parte, a Lei Agnelo/Piva, que destina 2% das loterias federais para o esporte olímpico e paraolímpico. A partir de 2001, com o advento da Lei Agnelo/Piva, o esporte olímpico e paraolímpico passou a receber mais recursos. No ano passado só o Comitê Olímpico Brasileiro recebeu em torno de R$ 80 milhões. Nos últimos sete anos, foram em torno de R$ 500 milhões. É um dinheiro expressivo, com o qual nunca se contou".

"Costumo dizer que temos fartura de recursos, mas está faltando gestão. Não que o dinheiro esteja sendo desviado, não estou fazendo acusação. O dinheiro é público, mas sua gestão está concentrada no Comitê Olímpico e no Comitê Paraolímpico Brasileiro. E essas instituições, que são entidades civis, gastam os recursos de acordo com as prioridades que elas fixam, sem a participação de nenhum representante do Ministério do Esporte. Ora, se o dinheiro é do governo federal, o Ministério do Esporte deveria ter participação na definição das prioridades dos gastos desse dinheiro".

"...falta gerenciamento, participação do Estado, definição de políticas, envolvimento de municípios, estados, escolas e universidades. Hoje está muito concentrado no governo federal e não há definição sobre o papel de estados e municípios. Desses recursos que saem para o COB, os atletas reclamam que o dinheiro não chega para a base, a iniciação. Os atletas jovens só vão receber recurso quando conseguirem um grande resultado nacional".

"Se, por um lado, o governo abre seus cofres e abarrota o esporte de recursos, de outro, ele é omisso. Não só em não participar da gestão desses recursos como também em não fazer política pública de esporte. O que quer dizer isso? Nós não temos hoje a educação física na escola, que é o ponto de partida para identificar um atleta. Nós temos no Brasil 33 milhões de crianças em idade escolar. Se pegássemos 0,1% desse contingente, teríamos o potencial enorme de 33 mil crianças para poder identificar ali possíveis talentos no esporte".


"Não temos renovação da equipe. Ficamos apostando nas mesmas modalidades e nos mesmos nomes. A vela, o vôlei, o futebol, a natação... ".

"No Brasil nossos eventos são muito fracos, vivemos competindo com nossos próprios atletas. O atletismo ainda vai pra fora, mas faz isso muito pouco. No Brasil, o governo tem de assumir sua parte. Se você pegar Cuba e EUA, que são dois extremos em vários sentidos, vai ver que eles têm algo em comum. Tanto em Cuba quanto nos EUA, o esporte começa na escola, assim como nos países comunistas. Não que a escola tenha a obrigação de formar o atleta, mas é lá que se pode identificar se ele pode ser do atletismo, da natação ou do tênis de mesa. Nós não temos isso no Brasil, uma falha que vem de muitos e muitos anos. Na Europa, a escola é outra: é o clube. No Brasil nós já tivemos clubes sociais que faziam esse papel de acolher o atleta. Hoje contamos nos dedos os clubes que fazem isso, porque a maioria decidiu dar prioridade ao seu associado em detrimento do atleta. Nós vivemos essa incongruência de termos recursos e não termos política, objetivos e projetos".

"Toda essa estrutura do esporte que, pela Lei Pelé, se chama sistema nacional do esporte, tem de ser participativa. Hoje a coisa está muito concentrada na mão do Comitê Olímpico Brasileiro. Eles têm de descentralizar esses projetos, que, aliás, não são de curto prazo. Mas a questão é a seguinte: quando esse atleta for identificado para a prática de determinado esporte, vamos encaminhá-lo para onde? Qual a instituição no Brasil que vai absorvê-lo para fazer esse treinamento de nível olímpico? Não temos. O que a Austrália fez em 2000, criando os centros de esporte, o que a China fez, o que Barcelona fez, o Brasil não fez".

"Se não é formador de atleta, o esporte é no mínimo formador de caráter. Nos projetos sociais dá pra ver onde estão aqueles atletas que têm potencial. Temos 1.550AABBs (Associação Atlética Banco do Brasil), uma área física disponível para esporte espetacular, e ela é desprezada pelo próprio governo".

"A imprensa brasileira é muito alvissareira, muito torcedora antes de ser analista e crítica. Agora mesmo tivemos vários recordes sul-americanos na natação de atletas que não foram nem para a final. Somos tão inexpressivos em nossas marcas que um recorde sul-americano não vale uma final em determinadas provas. Não que a gente não tenha potencial. Mas é aquilo que disse o César Cielo: está faltando prova forte no Brasil. No contexto geral, temos de nos perguntar: nossos técnicos estão preparados adequadamente? As confederações têm de trazer eventos fortes com calendários fortes, senão vamos continuar com nossos atletas competindo contra os mesmos. Isso não dá parâmetro nenhum".

"Não é raro ver os desmandos feitos com o dinheiro do esporte. No próprio Pan, do Rio, isso aconteceu. O TCU conseguiu identificar o superfaturamento de um equipamento para identificar crachás de 16.000%. Não foram 16%! Mais recentemente identificaram vários serviços que foram pagos com dinheiro público e não foram prestados, vários produtos comprados e não entregues. O ministro Marcus Vilaça vai apresentar um relatório no TCU mostrando que os auditores encontraram mais de 250 caixas com aparelhos de ar condicionado fechadas, pagas e não instaladas. Ou iam ser devolvidas para a empresa, ou iam vender para o mercado negro. Este é o país que quer sediar a Olimpíada".

sábado, 16 de agosto de 2008

Belo e sincero


Quando viajei para longe, vi a terra dos brancos, lá onde havia muito tempo viviam os seus ancestrais. Visitei a terra que eles chamam Eropa. Era a sua floresta, mas eles despiram-na pouco a pouco cortando as árvores para construir as suas casas. Eles fizeram muitos filhos, não pararam de aumentar, e não havia mais floresta. Então, eles pararam de caçar, pois não havia mais caça também. Depois, os seus filhos puseram-se a fabricar mercadorias e o seu espírito começou a obscurecer-se por causa de todos esses bens sobre os quais fixaram o seu pensamento. Eles construíram casas de pedra, para que não se deteriorassem. Continuaram a destruir a floresta, dizendo: "Nós vamos nos tornar o povo das mercadorias! Vamos fabricar muitas mercadorias e dinheiro também! Assim, quando formos realmente numerosos, jamais seremos miseráveis". Foi com esse pensamento que eles acabaram com a sua floresta e sujaram os seus rios. Agora, só bebem água "embrulhada", que precisam comprar. A água de verdade, a que corre nos rios, já não é boa para beber.

Nos primeiros tempos, os brancos viviam como nós na floresta e os seus ancestrais eram pouco numerosos. Omama transmitiu também a eles as suas palavras, mas não o escutaram. Pensaram que eram mentiras e puseram-se a procurar minerais e petróleo por toda parte, todas essas coisas perigosas que Omama quis ocultar sob a terra e a água porque o seu calor é perigoso. Mas os brancos encontraram-nas e pensaram fazer com elas ferramentas, máquinas, carros e aviões. Eles ficaram eufóricos e disseram: "Nós somos os únicos a ser tão engenhosos, só nós sabemos realmente fabricar as mercadorias e as máquinas!". Foi nesse momento que eles perderam realmente toda a sabedoria. Primeiro estragaram a sua própria terra antes de ir trabalhar na dos outros para aumentar as suas mercadorias sem parar. Nunca mais eles disseram: "Se destruirmos a terra, será que seremos capazes de recriar uma outra?"

Quando conheci a terra dos brancos isso me deixou inquieto. Algumas cidades são belas, mas o seu barulho não pára nunca. Eles correm por elas com carros, nas ruas e mesmo com comboios por debaixo da terra. Há muito barulho e gente por toda parte. O espírito torna-se obscuro e emaranhado, não se pode mais pensar direito. É por isso que o pensamento dos brancos está cheio de vertigens e eles não compreendem as nossas palavras. Eles não fazem mais que dizer: "Estamos muito contentes de rodar e de voar! Continuemos! Procuremos petróleo, ouro, ferro! Os yanomami são mentirosos!". O pensamento desses brancos está obstruído, é por isso que eles maltratam a terra, desbravando-a por toda parte, e a cavam até debaixo das suas casas. Eles não pensam que ela vai desmoronar. Eles não temem cair no mundo subterrâneo. Porém, é assim. Se os "brancos-espíritos-tatus-gigantes", as mineradoras, entram por toda parte sob a terra para retirar minérios, eles vão se perder e cair no mundo escuro e podre dos ancestrais canibais.

Nós, nós queremos que a floresta permaneça como é, sempre. Queremos viver nela com boa saúde e que continuem a viver nela os espíritos xapiripê, a caça e os peixes. Cultivamos apenas as plantas que nos alimentam, não queremos fábricas, nem buracos na terra, nem rios sujos. Queremos que a floresta permaneça silenciosa, que o céu continue claro, que a escuridão da noite caia realmente e que se possam ver as estrelas. As terras dos brancos estão contaminadas, estão cobertas da xawara wakixi, uma "epidemia-fumaça", que se estendeu muito alto no peito do céu. Essa fumaça dirige-se para nós mas ainda não chega lá, pois o espírito Hutukarari repele-a ainda sem descanso. Acima da nossa floresta o céu ainda é claro, pois não faz tanto tempo que os brancos se aproximaram de nós. Mas bem mais tarde, quando eu estiver morto, talvez essa fumaça aumente a ponto de estender a escuridão sobre a terra e de apagar o sol. Os brancos nunca pensam nessas coisas que os xamãs conhecem, é por isso que eles não têm medo. O seu pensamento está cheio de esquecimento. Eles continuam a fixá-lo sem descanso nas suas mercadorias, como se estas fossem as suas namoradas.


Davi Kopenawa Yanomami

Via República do Fiúme

!

"Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos".

Nael, personagem do livro "Dois Irmãos", de Milton Hatoum (Companhia das Letras, 2006). Aliás, um dos melhores livros que já li.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Boa

"E a rodada de Doha, hein? Não deu em Doha nenhuma...". Via Blog do Nelito

Perrelada

Tava demorando! Via Blog do Juca

Perrelas em apuros

Da assessoria do STJ
O ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), indeferiu o pedido de liminar em habeas-corpus e manteve a decisão do Tribunal Regional da 1ª Região (TRF1) de quebrar o sigilo bancário e fiscal dos dirigentes do Cruzeiro Esporte Clube. O presidente da entidade, Alvimar de Oliveira Costa, e o vice-presidente de futebol e também deputado estadual de Minas Gerais, José Perrella de Oliveira Costa, são acusados de enriquecimento ilícito com a venda dos direitos econômicos de jogadores.

Os dirigentes alegaram ao STJ que faltava fundamentação na decisão de quebra de sigilo expedida pelo TRF1 e pediram ao relator, ministro Og Fernandes, liminar para lacrar qualquer documento referente a eles até que a Sexta Turma do STJ julgue o mérito do habeas-corpus. No mérito, os dirigentes pedem a anulação da decisão proferida pelo TRF1.

O Ministério Público de Minas Gerais abriu procedimento administrativo contra os dirigentes em 2003. Na denúncia, há relatos de que eles se beneficiaram de contratos realizados com as empresas Hicks, Muse, Tate & Furst Incorporated (HMTF), que criaram a Cruzeiro Sports Licensing CO, além do contrato com a EMS Sigma Pharma, que viabilizou a contratação e venda de jogadores.

O ministro Og ressaltou que a decisão do TRF1 se fundou em suspeitas levantadas no próprio processo e a concessão de liminar exigiria a análise pormenorizada de provas, tarefa impossível num pedido de liminar em habeas-corpus. A questão de mérito ainda deve ser apreciada pela Sexta Turma.

O blog acrescenta que inúmeros cartórios mineiros estão sendo solicitados para mandar o que têm registrado em nome dos irmãos, que se dão muito melhor com o Cruzeiro do que o Cruzeiro se dá com eles.

Grand Finale

Meu último cigarro acaba de queimar meu dedo. Tomei um copo d´água. Vou vomitar. Até amanhã.

Marcados

Bright. Marlboro. CPF. Cemig. Imagine PC. ALE. Samsung. Estado de Minas. BIC. Dell. Caixa Economica Federal. Sony. Banco do Brasil. Lucky Strike. Jornal dos Bancários. Pinnacle. Leadership. Banco Central do Brasil. Motorola. Explorer. Corfix. Micro House. Ragtech. Epic. Teka. Spon. West Coast. Olympikus. All Star. Aqui. Rumos e Trilhas. Adidas. C&A. Gillette. Oral B. Colgate. Elseve. SulAmerica. Revista do Brasil. Folha de S. Paulo. Revista Fórum. Carta Capital. Neve. Playboy. Net. Penalty. Nike e muito mais. É isso então?

Desabafo

Olá. Primeiro descreverei o estado em que me encontro. Bêbado, alterado e feliz. Tive uma noite que todo homem desejaria. Agora o relógio aponta 2h58 da madruga. E por que escrever uma hora dessas? Porque agora a sinceridade comanda, é a musa guia das minhas mãos. E que me perdoem os erros, não revisarei esse texto. Mesmo porque se revisasse não adiantaria muito. Mas o que quero dizer é o seguinte: pelo amor de quem for, por favor, não vivam esperando algo depois. Por favor. Vivam o agora sem esquecer do amanhã, mas não subjuguem o presente pelo futuro. Inconsequência? Não. Coragem. Meus caros, de acordo com minhas crenças, é isso que nos foi dado, e já que é assim, vamos viver. Não construam castelos de areia que se desmancharão frente a primeira brisa. Sejamos humanos porra! Não tenhamos medo. Medo de expor as fraquezas, medo de assumir os defeitos, medo de nossas potencialidades. NÂO! Sejamos gente, sejamos seres sem receio do que os outros pensarão, sejamos nós mesmos. Como sei quem são os que me lêem, escrevo para vocês. Não devemos temer a vida, não devemos temer os outros com suas palavras, às vezes cortantes, às vezes confortadoras. Por favor, vamos assumir tudo, tudo, tudo. É isso o que importa. É isso que nos faz maravilhosos. Meus caros, na vida basta acumular histórias e amigos. O resto só ocupa espaço. Quero viver ao lado de pessoas, seres humanos que choram, que gritam, que esmurram, que estendem a mão. Não quero ser o dono da verdade, só quero compartilhar a minha. O sofrimento atravessa todos nós, a alegria ilumina apenas alguns. Puta que pariu, nós merecemos isso! Merecemos nos decepcionar com a mesma intensidade com que nos alegramos. É isso, e me desculpem o rompante. Agora são 3h11.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Os Jogos da hipocrisia

JUCA KFOURI

-------------------------------------------------'-------------------------------
Não é de hoje que o Movimento Olímpico perdeu seu idealismo. Mas Pequim passa de todos os limites
--------------------------------------------------------------------------------


"POR QUE você não foi para Pequim?", perguntam.

"Porque não quis", respondo. Mais: estou entrando em férias e só volto aqui no dia 21. (Nota do blog: o "aqui" se refere apenas ao jornal...).

Claro que verei a Olimpíada e até comentarei no blog, mas ando cheio de tanta hipocrisia, a começar pela caça aos que são pegos no antidoping por hábitos que só fazem mal e pioram o rendimento.

Não aceito ver essa cartolagem imunda da família olímpica no papel de fiscal dos hábitos da juventude e, ainda por cima, expondo jovens à execração pública, como acabam de fazer com um jogador do handebol brasileiro.

Como não suporto o ufanismo da maior parte das narrações, com as exceções de praxe para os felizardos que podem assinar um canal de televisão fechada, razão pela qual darei uma fugidinha do país para acompanhar Pequim de uma cidadezinha colonial mexicana apaixonante chamada Guanajuato.

Porque passa do limite ver um Carlos Nuzman fazer quase o elogio da poluição ou se jactar pela maior delegação brasileira da história, quando só 12% de nossa rede escolar tem quadras de esporte.
Aliás, quanto mais medalhas o Brasil ganhar, mais ficará demonstrado o desvio de sua não-política esportiva, porque privilegia o alto rendimento em vez da inclusão social ou a saúde pública por meio da prática de esportes.

Dá engulhos ver a cartolagem em hotéis de até sete estrelas enchendo a boca para dizer que esporte e política não se misturam, quando nada foi mais político do que escolher Pequim para receber os Jogos, cidade que, além de poluída, é uma capital que se notabiliza por cercear direitos básicos da cidadania.

Tudo por dinheiro, tão simples assim.

Porque a China talvez seja o melhor exemplo, com todas as suas contradições, de como ainda não se achou um sistema razoável, tão óbvias são as mazelas do comunismo e do capitalismo reais.

É claro que verei tudo, é claro que me emocionarei com as vitórias brasileiras, como com a festa de abertura.

É evidente que torcerei para que aconteçam triunfos como nunca, porque tenho a surpreendente capacidade (surpreende a mim mesmo, diga-se) de voltar a ser criança a cada competição em seu apito inicial.

E não é de hoje.

Faço assim com os jogos de futebol lá se vão bem uns 26 anos, depois que se revelou a existência da chamada "Máfia da Loteria Esportiva".

Porque paixão é paixão e não se explica, não se racionaliza, se sente.

E se curte.

Sim, eu sei que serei capaz de me comover às lágrimas até com a superação de um atleta que não seja conterrâneo, como já me aconteceu inúmeras vezes.

Mas é preciso que se diga que mais que em Atlanta, quando os Jogos Olímpicos modernos comemoraram cem anos e a Coca-Cola alijou Atenas de recebê-los num crime contra a história, esta edição chinesa é um soco em quem associa o esporte à saúde e à liberdade.

Lamento sentir assim, mas quem viveu a inesquecível festa de Barcelona-1992, cujos equipamentos até hoje são utilizados por quem os pagou, os catalães, além da hospitalidade que recebeu o mundo tão bem, não pode engolir Pequim-2008.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Quadro de medalhas

Em tempos olímpicos, este post tem tudo a ver. Clique aqui e confira um mapa com todos os resultados de todos jogos disputados até hoje. Fica claro, claríssimo, que as olimpíadas são um dos mais fiéis retratos do mundo, era após era. Elas apontam os impérios, as potências, revelam onde o dinheiro jorrou em cada época. Para quem dispor de paciência, vale a pena conferir cada edição. E fica claro, claríssimo, que o Brasil realmente é um pobre coitado entre os Apollos.

Positivo

A subversão consiste em levar uma vida filosófica na qual as virtudes dominantes da nossa época mercantil (o dinheiro, o poder, a riqueza, a ostentação, as honras, a busca de celebridade, a futilidade, a mundanidade, a paixão pelas aparências…) sejam completamente ignoradas e substituídas sem alarde por valores reais: ser em contraste com o ter; o poder sobre si e não sobre os outros; a indiferença em relação ao dinheiro – quer o tenhamos ou não, nada se fará para o ter; a supremacia da vida interior contra o império do olhar do outro sobre si; a recusa das honras, de que se preferirá o sentido da honra; a indiferença relativamente à celebridade – tenha-se ou não, o importante é nada fazer para a ter; o desejo de se construir em profundidade longe da superficialidade mundana, ou seja, a escultura de si como ato para si e não como ficção para o outro.

Michel Onfray, via República do Fiume.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Dois lados de um só Brasil


Brasil, Brasil. Pátria de extremos. Gigante que acomoda em seus braços o mal e o bem, a seriedade e a algazarra, traços de um país e de um bananal.

Leio que no Pará, na cidade de Viseu (limítrofe ao Maranhão), a população local, insandecida pelo assassinato de um jovem de 16 anos por um policial, tomou de assalto e incendiou a delegacia e o fórum, além de saquear a casa do juiz da cidade. Ele se safou porque pulou o muro de sua residência e fugiu. Os presos foram libertados pelos populares, portanto não viraram churrasco. Na verdade, é provável que tenham realizado um churras para comemorar o inusitado e triste acontecimento. Segundo a matéria da Agência Estado, outros prédios públicos também foram atacados. O três policiais que participaram da ação foram retirados da cidade, pois, como se vê, seriam descarnados vivos. O militar acusado de efetuar o disparo alegou que o jovem o agrediu e que a ação foi em legítima defesa. O motivo da ocorrência: um baseado.

Esse é o país que ainda se contorce no limbo.

Mas há que se ter esperança. E o próximo fato a oferece, suculenta e revitalizante, tornando o futuro um pouco menos tenebroso. Um juiz federal de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, vive uma situação limite simplesmente porque não arredou os pés de seus princípios, do que exige sua profissão. Ele está jurado de morte pelo crime organizado. Motivo: o nobre é uma metralhadora de sentenças. Em um ano condenou 114 traficantes e realizou um confisco geral dos bens adquiridos com o dinheiro sujo. A vara em que atua foi a que mais condenou traficantes no país nos últimos 12 meses. Sua cabeça está a prêmio, paga-se US$ 300 mil pelo seu sangue. Agora ele é obrigado a andar escoltado 24h por dia e se locomove num carro blindado que suporta disparos de AR-15. Interessante é que o juiz se mudou para o quartel do Exército e depois para o próprio fórum, por motivo de segurança. Isso mesmo, ele vive atualmente no fórum de Ponta Porã. A família ficou em Campo Grande, pois seria uma presa fácil. Ele conta que abdicou por completo de sua vida social, não vai a restaurantes, cinemas, nada. Inclusive se alimenta (almoça um marmitex) somente em locais especialmente escolhidos, pois corre o risco de ser envenenado. A honra desse homem é tamanha que ele poderia ser transferido para Campo Grande, onde é titular de uma vara. Porém ele crê na importância de seu trabalho e não abandonará a luta contra narcotráfico.

Esse é o país que quero. Palmas para o juiz de Ponta Porã, um grande exemplo do que alguém é capaz quando acredita de fato em sua missão.

PS: Não disponibilizei o link para a matéria do juiz porque a recebi via e-mail, que não identificou a fonte.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Aqui só não pode mijar



Segundo informa o Blog do Josias, há 10 dias desembarcou no Supremo Tribunal Federal um processo em que o réu é acusado de “ato obsceno”. Motivo: o rapaz tirava água do joelho na rua, durante o carnaval em Diamantina, quando foi surpreendido pela polícia.

O sujeito foi então encaminhado até a delegacia, onde foi autuado. O Ministério Público encaminhou denúncia contra o mijão, que foi aceita pela juíza da comarca local com base no artigo 233 do Código Penal.

O acusado contou com a rapidez de seu advogado, que enviou ao STF um pedido de habeas corpus e de cancelamento do processo. A ação ainda não teve um desfecho.

Então é isso. A maior instância jurídica do país se prestando a julgar casos de incontinência urinária, catalisada pela pujança do carnaval e por algumas latinhas de cerveja (quem sabe algumas doses também). Num dia o STF concede a liberdade ao maior criminoso do país, Daniel Dantas. No outro julga a soltura indevida de um xixi em dia de carnaval.

Normal em se tratando de Brasil. Num país de merda, cadeia para o xixi. E asas para todos aqueles que vocês sabem quem são!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

!

As palavras têm que ser suaves. Os argumentos é que precisam ser fortes.
Tadeu Comerlatto

terça-feira, 29 de julho de 2008

Dois quilos, por favor

Deus é o maior açougueiro do universo. Da costela tirou filé mignon.

Ôh dó!


Claudia Leitte está carente (G1)

Vem pra cá então neném!

Gente

Todos pensam que não podem errar, que não podem vacilar, que não podem ser ridículos, que não podem tombar, que não podem falhar, que não podem se entristecer, que não podem desistir, que não podem pecar. Mas ninguém pensa que é gente, e gente faz tudo isso, todo dia, toda hora.

O bafo da onça

Fotos: Dário Félix

Este é Onça. Ele gosta de beber. Prefere cachaça, mas enfia goela abaixo o que aparecer, em estado líquido, que fique claro. Onça se presta a comandar o trânsito de Rio Piracicaba, minha querida terra, nas horas caóticas, entre 18h30 e 18h31, quando se cruzam dois carros, um caminhão e quem sabe uma carroça ou uma bicicleta na curva do açougue, próxima à ponte sobre o rio que batiza a cidade. Nesses momentos Onça entra em ação, assobia, ameaça, se diz oficial da lei, manda prender e soltar. Dizem que ele é doido. Não sei. Nunca o vi sóbrio, ou seja, um sujeito desse tem algo que nós não temos. Recentemente sofreu um derrame, mas ainda assim não se levantou da mesa. Ainda mama na garrafa, de pinga. Ele não tem mais dentes, apenas alguns resquícios pontiagudos e pretos na boca. Creio que Onça seja inofensivo. Mas não poria minha mão no fogo. O que Onça acha de nós? Ele não dá a mínima. Simplesmente pensa assim: fodam-se! Certo? Errado? Quem é capaz de apontar? Desde criança o vejo assim, nesse eterno amor com a embriaguez. Aposto, Onça nunca sofreu de depressão, não se preocupa com a inflação dos alimentos, não tem que acordar cedo, não paga imposto, não recebe salário (por isso não se preocupa quando ele está no fim), não passa fome, não tem dor de cabeça (segundo ele mesmo diz), não tem filhos (também não tem que pagar pensão), não duvida de Deus, não acredita nos políticos (mas sempre está perto de algum deles), tem elevada auto-estima. E é profundo conhecedor das leis de trânsito. Ainda não sei como reagiu com os motoristas após a entrada em vigor da lei seca. Acho que ele não perdoaria ninguém, afinal sempre respeitou a lei, por isso mesmo nunca comprou um carro. Onça gosta de filar cigarros. Enfim, Onça é como alguns de nós, e melhor que outros.

Acima e ao lado, Onça transgride as regras do capital e dorme dentro do auto-atendimento do BB de Piracity. Um contestador nato, diria, além de muito esperto. Era verão, noite quente, e lá tem ar-condicionado.

domingo, 27 de julho de 2008

O jovem amarelão


O artigo abaixo, publicado hoje na Folha de S.Paulo, se refere à pesquisa, realizada pelo Datafolha, que traçou o perfil do jovem brasileiro. Parece ser uma pesquisa abrangente, onde 1.541 jovens foram entrevistados em 168 cidades, capitais e do interior. A constatação suprema: o jovem brasileiro é tão ousado quanto uma freira. Quer um curso de graduação, um bom emprego, casa, carro e família. Argh!

Assim, tudo indica que o mundo tende a se tornar cada vez mais monótono. A quem caberia criar algo novo restou apenas cacos de sonhos já gastos. É apenas minha opinião. Queria um pouco mais de irresponsabilidade nessa pesquisa, um sintoma robusto de juventude.

Mas não, pessoas de minha idade se preocupam em adquirir e reproduzir um modo de vida medíocre. Tudo bem, trabalhar é necessário, claro. Como pagaria meu prazer? Ninguém oferece as benesses de mão beijada, não existe almoço grátis. Mas daí a classificar isso como sonho, como objetivo de vida, é muito pouco.

Eu sonho em ser autônomo, absolutamente livre no pensar, tranquilo em minha condição de ser humano que um dia morrerá e que não tem importância considerável para o funcionamento do mundo. As pessoas passam, algumas deixam marcas, outras não, é indiferente, a história continuará a ser contada de qualquer maneira. Sonho em chegar ao fim da vida quite comigo mesmo, olhando meu rosto no espelho de igual pra igual. O resto é secundário.

Abaixo o artigo, no qual Calligaris se pergunta se um dia já existiu a juventude como a imaginamos. Ele acredita que não, eu penso que sim.


A ADOLESCÊNCIA ACABOU?

Contardo Calligaris

A pesquisa de hoje mostra a mesma coisa que, aparentemente, descobrimos a cada vez que sondamos os adolescentes: eles são tão caretas quanto a gente, se não mais.
Eles se preocupam sobretudo com família, saúde, trabalho e estudo. Seu maior sonho é a realização profissional -não empreendimentos fantasiosos, mas o devaneio de qualquer mãe de classe média: ser médico, advogado ou encontrar um bom emprego que lhes garanta casa própria e carro.

Em matéria de política, a maioria se posiciona à direita ou ao centro e não tem interesse em participar de movimentos sociais. Eles têm opiniões parecidas com as da média nacional: são contra a legalização do aborto, contra a descriminalização da maconha e a favor da diminuição da maioridade penal. Sobre a pena de morte, estão divididos meio a meio.

Não são aventurosos: têm pouca vontade de viajar e estão preocupados com a violência. Na hora do sexo, têm muito medo da Aids.
Quanto às drogas, espantalho dos pais, eles preferem a que os adultos se permitem, o álcool.

Cúmulo para quem imagina que os adolescentes sejam contestatórios: em sua maioria, eles acham que o que aprendem na escola é de grande utilidade para o futuro.
Em suma, a surpresa da pesquisa de hoje não está nos resultados, mas no nosso susto ao lê-los: ainda acreditávamos numa visão cinematográfico literária da adolescência. Ou seja, supúnhamos que os adolescentes fossem insubordinados e visionários. Será que já foram e desistiram? Ou será que nunca foram, como sugere a comparação com a pesquisa Datafolha de 1998 e com outra, da revista "Realidade", de 1967?

A adolescência como época separada e específica da vida foi inventada nos anos 1950 e 1960. É nessa época que o cinema e a literatura (narrativas inventadas pelos adultos) criaram a figura do adolescente revoltado, ao qual foi confiada a tarefa de encenar as rebeldias inconfessáveis e frustradas dos adultos.

Uma explicação materialista para esse fenômeno diz que, no quase pleno emprego do pós-guerra europeu e americano, era bom que os jovens levassem mais tempo antes de chegar ao mercado de trabalho; ou, então, que um tempo maior de preparação e estudo era exigido por um mercado de trabalho cada vez mais especializado.

Outra explicação, menos materialista, diz que os adultos, na pequena prosperidade do pós-guerra, achavam sua vida um pouco chata (e era, de fato, mais do que nunca, massificada). Os adultos, portanto, sonhavam com aventuras às quais pareciam ter renunciado em troca de uma casa, um liquidificador, dois carros e uma TV. E eles inventaram a adolescência como encarnação de sua vontade de uma vida menos enlatada.
A invenção cultural da adolescência nem sequer transformou a maioria dos adolescentes em rebeldes. Mas produziu um clima suficiente para que, aos 20 anos, alguns membros da geração nascida logo após a guerra chutassem o balde que os adultos queriam, mas não sabiam chutar: contracultura, aspirações sociais, revolução sexual etc. O mundo ficou melhor para todos.

Mas foi um momento especial, em que a insatisfação reprimida dos adultos do pós-guerra delegou aos jovens uma missão quase revolucionária. Desde então, é como se a adolescência tivesse perdido sua razão de ser.

Resta, aos adultos, a expectativa de que os adolescentes corram os riscos que a gente não quer mais correr ou nunca quis, de que eles sejam nossa face audaciosa, sedenta de experiências e de terras incógnitas, generosamente preocupada com um mundo melhor. Mas é uma expectativa vaga, que se confunde com nossa vontade periódica de tirar férias.

Hoje, quais são nossas aspirações extraordinárias e escondidas? Quais os sonhos que os adolescentes defenderiam e encenariam para nós? São apenas visões de nós mesmos, um pouco mais bem-sucedidos.

O tempo da adolescência acabou. O que sobrou dele? Talvez apenas uma trilha sonora.

Os novos muros

Os novos muros negam ao trabalho mal remunerado o mesmo direito universal de ir e vir concedido ao capital global.

Apresenta-se como vantagem da era contemporânea a liberdade do dinheiro de passear pelo mundo. A pecúnia não tem pátria. Vai para onde ganha mais.

Aos pobres sonega-se a ousadia da desenvoltura. Quem ousa pular os novos muros é tratado com prisão, humilhação e deportação.


Via Blog do Josias

Outra forma de lutar


MST cria sua própria estrutura de ensino

Escola financiada por Chávez forma pedagogos técnicos em agroecologia

A educação é hoje uma das principais preocupações do MST. Além de pressionar o Incra para a criação de mais vagas para os assentados em universidades públicas, o movimento também monta aos poucos sua própria estrutura de escolas. São exemplos disso a Escola Latino-Americana de Agroecologia e a Escola Nacional Florestan Fernandes, que ministram cursos de especialização de nível superior.

A Escola Latino-Americana, montada com recursos oferecidos pelo presidente Hugo Chávez, da Venezuela, funciona no município de Lapa, região metropolitana de Curitiba, e forma pedagogos especializados em agroecologia. Segundo seus diretores, defende uma nova matriz de produção rural, que leve mais em conta questões políticas e ambientais.

A Florestan Fernandes, situada no município de Guararema, interior de São Paulo, tem um leque mais amplo de cursos e atua como parceira de algumas universidades. É o caso da Fundação Santo André, instituição municipal da região do ABC paulista.

Em 2005, quando a fundação e o Pronera firmaram um convênio para a criação do curso de bacharelado em gestão de organizações sociais e cooperativas, ficou combinado que parte do curso seria ministrada na Escola Nacional.

As escolas do MST também oferecem cursos de formação política para seus militantes.

Uma das maiores dificuldades enfrentadas hoje nos assentamento está relacionada ao ensino médio. Em algumas regiões fala-se em envelhecimento da população da reforma, devido ao fato de a grande maioria dos jovens mudar para a cidade, para cursar o ensino médio. Essa não é uma dificuldade só dos assentamentos: atinge outros setores da zona rural.
(Estadão)

Mas e aí? Não é justamente isso que é cobrado do MST? Que seus assentamentos produzam, sejam auto-sustentáveis? Como se conseguirá isso sem educação? Não é correta a idéia de formar uma geração de integrantes qualificados, para que possam promover essa mudança? O errado é misturar a política? O MST é uma organização eminentemente política, com objetivos traçados, ideologia arraigada, estrutura hierárquica bem delineada, desfrutando de aliados e inimigos. É normal e recorrente que esse tipo de organismo se preocupe com a formação intelectual dos sucessores, para que o movimento não perca sua marca, sua alma.

Que fique claro, tenho conhecimento pleno dos desvios que alguns integrantes da cúpula do MST insistem em cometer, valendo-se da mobilização de milhares para promover interesses individuais. E estes são os que acabam por influenciar as ações da base, composta pelos que dormem em barracas de lona preta. O Movimento tem um milhão de erros, imperfeições, radicalismos e anacronismos. Concordo. Mas possui também um milhão de acertos.

Procurem se informar sobre os assentamentos que deram certo, alguns com cerca de seiscentas pessoas vivendo em um abiente totalmente comunitário, de produção coletiva e partilha igualitária dos lucros, comercializando uma variada gama de mercadorias derivadas da pecuária e agricultura. Estes assentamentos possuem regras claras, como a pena de expulsão para o roubo, por exemplo. As delinquências têm um nível de ocorrência muito baixo ali. Estas localidades baseiam-se no investimento visando a aprimoração da produção, tal qual uma empresa que trabalha pelo seu crescimento. A diferença é que a turbina propulsora dos assentamentos não é abastecida pela ganância desenfreada.

Portanto, não há motivo para o jornal imprimir um caráter deletério ao fato. É por essas e outras que os movimentos sociais de esquerda tanto batem na tecla da grande imprensa, que noticia o certo e o errado da mesma maneira ruim. Ademais, o Chávez participar disso não é motivo para histeria. Ele patrocinou uma escola de samba carioca há pouco tempo atrás e a imprensa não bateu forte, pois se tratava do carnaval, festa de apelo popular, não fica bem denegrir a imagem de um ícone de nossa cultura. Ainda mais sendo o carnaval do Rio. Que não venham com insinuações agora.

Aplausos para a iniciativa do MST de qualificar seus membros, pois assim o Movimento poderá evoluir, buscar novos caminhos e estratégias, alcançar seu objetivo primordial, a reforma agrária, valendo-se da mais poderosa das ferramentas: o conhecimento.

O Petróleo é nosso


Aqui vai o link para uma reportagem especial produzida pelo jornal argentino Clarín que trata do recente posto alcançado pelo Brasil, o de potência energética mundial. A descoberta dos campos de petróleo Júpiter, Tupi e Carioca traz previsões que colocam o país como futuro exportador de grande porte da comodite. O periódico hermano retoma o tema da distribuição de renda ao discutir o destino da riqueza monetária gerada pelo ouro negro, se este brilhará nos casebres dos morros, aglomerados, becos e vielas ou se enfeitará apenas os pescoços, orelhas e mãos da alta classe. A matéria também apresenta a nova plataforma P-51, um colosso que sugará a riqueza deitada no fundo do mar, numa profundidade de cerca de 5 quilômetros. Por fim, o jornal busca entender porque a Argentina não conseguiu seguir os passos do vizinho, uma vez que criou, em 1907, a petrolífera YPF, quase cinquenta anos antes do surgimento da Petrobras.

Além disso, vale a pena acessar o material do Clarín devido ao excelente acabamento gráfico dado à série de três reportagens e à sua bela edição.

Outra coisa, é sempre bom presenciar a Argentina babar pelo Brasil.

Um brinde ao melhor


Cristiano Ronaldo nega ter gastado R$ 29 mil em bebidas alcoólicas nos EUA

Advogados do jogador enviam comunicado à imprensa para defendê-lo

Os advogados de Cristiano Ronaldo enviaram um comunicado oficial neste sábado à imprensa portuguesa e inglesa negando que o meia-atacante português tenha gastado € 12 mil (R$ 29 mil) em bebidas alcoólicas durante uma noitada em Los Angeles, como publicou o jornal "Daily Mirror" na última semana. (Globoesporte)

Porra, o cara é o melhor jogador do mundo, namora uma mulher construída e recheada à mão e ainda por cima chapa todas? Esse cara é o meu herói.

CRISTIANO RONALDO PARA PRESIDENTE DO MUNDO!

PS: Só não dá pra dividir conta com o cara, ele é meio esbanjado.

sábado, 26 de julho de 2008

O valor de um supercílio


Irmão de Tasso Jereissati sofre acidente em Saint-Tropez


Bruno Astuto


Rio - O empresário Hugo Jereissati, irmão do senador Tasso e do empresário Carlos Jereissati, sofreu acidente na última sexta-feira em Saint-Tropez. Ele caminhava desavisado quando deu de cara com um poste e abriu o supercílio. Um avião fretado o levou a Paris imediatamente para os reparos. (O Dia Online)

Essa "notícia" merece três considerações. A primeira, a mais óbvia, é o gigantismo da frescura desse tal Hugo Jereissati. Um avião fretado, Paris, hospital, imprensa, tudo isso por causa de um supecílio aberto? Caso o distinto venha a quebrar um braço, creio que o mundo entrará em colapso. Enquanto uns têm aviões para tratar do supercílio, outros desfrutam de um delicioso dia de espera em uma fila, simplesmente para escutar a voz seca da atendente dizendo: "Só amanhã, acabaram as senhas, e além disso médico pro seu caso só lá no hospital... como é mesmo o nome daquele hospital lá do outro lado da cidade Jurema?".

A segunda observação refere-se ao caso Daniel Dantas. É uma prova na verdade. Leiam as matérias da revista Veja sobre a compra da Brasil Telecom pela Oi. Em nenhum momento a revista cita que Carlos Jereissati, um dos cabeças à frente do "maior negócio do capitalismo brasileiro", como designou a imprensa, é irmão do senador Tasso Jereissati, do PSDB. Um negócio que demandou a investida direta do governo para se concretizar, visto a mudança na legislação aprovada às pressas para regularizar a transação, que envolveu diretamente o irmão de um emplumado político, e nada é mencionado? Uma linha sequer? Mesmo Tasso fazendo parte da oposição, a capacidade de influência que o senador possui ainda é grande. Ele é um político "histórico", para o bem e para o mal, mais para o mal. Mas claro, a revista trabalhava para Dantas, e não poderia de maneira alguma levantar suspeições sobre o negócio que o chefe mais ansiava por selar. O que assusta mais é que a mesma situação teria outros desdobramentos caso os atores fossem diferentes. Imaginem se os personagens fossem correligionários do PT ou de qualquer outra agremiação que não é vista com bons olhos pela revista? A gritaria espatifaria cristais. Um adendo. A imprensa deve acompanhar de muito perto o negócio Oi/BrT, independentemente de quem participa da ação. São interesses potentes se cruzando, mil glutões lutando por um prato de caviar.

Por fim, a última consideração trata do nome do repórter designado para escrever tão importante matéria. Nada contra o profissional em si, as pautas caem em nossos colos e não há muito o que se fazer sobre isso, principalmente em grandes redações. Mas não poderia perder a piada, não é mesmo Bruno Astuto? Perfeito!

Gagged in Brazil - Censura na Imprensa

Este documentário descarna a relação entre o governo mineiro, particularmente a pessoa do governador-galã-pegador-censor Aécio Nevasca, e a imprensa do estado. Bem, após assistir o filme, não sei se isso que temos aqui pode ser chamado de imprensa. Os encontros entre os dois são promíscuos, sujos, pecaminosos, podres. São a essência da negociata, dos interesses privados (econômicos e políticos) acima de tudo. Assistam e saibam o que vocês andam lendo ao comprar o "grande jornal dos mineiros" ou vendo ao sintonizar emissora que tem "tudo a ver com você", dentre outros, que na verdade são quase todos.

Bob Dylan - It's All Over Now, Baby Blue (Live 1965)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Reverse Graffiti : Ossario : Alexandre Orion

Crédito: Ser de Uberaba

"Depois de uns dias na paulicéia desvairada, trago uma contribuição daquelas bandas para o sertão da goiabada.

Há alguns anos surgiu o mundialmente atuante The Reverse Graffiti Project que, como o nome mesmo diz, é um grafite ao contrário, ou seja, o artista faz sua arte utilizando um material já existente no local da intervenção, podendo ser poeira, água, fuligem, etc. É tida como uma arte ambientalmente responsável que utiliza e exalta a filosofia do clean.

No vídeo abaixo, o artista plástico Alexandre Orion faz uma intervenção em um túnel paulistano, onde ele retira a fuligem deixada pelos carros para compor a obra Ossário Arte Menos Poluição."
Via Sertão de Goiabada.

domingo, 20 de julho de 2008

Las Lobas Ciendientes - P5


Hahahaha! E então filhos da puta, pensaram que eu tinha morrido? Não, não morri. Simplesmente permaneci por mais de três meses encravado numa caverna molhada, abarrotada de criaturas desagradáveis, a começar pelas Lobas. Sim, Las Lobas Ciendienes, aquelas velhas sodomitas. Desgraçadas, estas putas furtaram minha liberdade, se apossaram de meu corpo e agora minha vida dá adeus. Putas, putas, tomara que aquelas diabas pelancudas se consumam, se fartem de tanta maldade, sejam elas próprias seus verdugos.

Mas, foi demais! O que eu farei agora? Estou louco, completamente louco, insano, irado, revoltado, pirado! Filhas da puta, putas, putas, putas! Las Lobas Ciendientes, sim, nunca mais este nome deixará minha mente, nem quando eu esquartejá-las e jogar seus últimos pedaços aos porcos. Aguardem safadas, aguardem, vocês pagarão por terem me jogado no inferno. E eu serei o cobrador, e vou exigir tudo de volta com uma faca em suas gargantas, com aço incandescente a perfurar seus olhos suas PUTAS! Velhas vadias, vão se fuder!

Agora que consegui escapar vocês verão, vocês verão. Preciso só de alguns dias, alguns dias para recuperar minhas forças, para forjar minhas armas, para pedir a proteção do Justo e assim caminhar abençoado rumo ao meu destino, que é liquidar com aquelas velhas. PUTAS!

Elas acordaram uma besta, deram à luz a um animal em estado bruto, talvez o mais selvagem entre os selvagens, um animal que quer e que necessita do gosto de sangue em sua boca. Talvez meu destino fosse o comodismo, aceitar a condição de agente de viagem, levar minha vidinha chula e boçal até o beijo com a morte. Mas agora as velhas abriram meus olhos, as privações pelas quais passei, as chagas, as humilhações, as tantas noites de medo e de angústia, tudo isso formou um caldo amargo de ódio, que eu bebi numa só tragada. E agora estou alcoolizado, os delírios me guiam, e um só objetivo me mantém de pé: matar aquelas putas.

Até a próxima. Se ainda conseguir falar e escrever após minha empreitada mandarei notícias. Agora é hora de submergir para depois explodir numa combustão absurdamente devastadora. Me aguardem suas velhas, seus dias estão contados e registrados, não há mais salvação para vocês.

Os índios são “cult”


Caminhava rumo ao inevitável trabalho. O bafo do inverno soprava manso, frio, e lutava contra o sol anêmico que insistia em queimar a superfície suja e asfaltada da cidade. Caminhava de cabeça baixa, como de costume, e em minha frente surgiu uma mão, que oferecia um pequeno folheto, uma cópia xerocada.

A mão pertencia a um corpo feminino, que apresentava a face camuflada por uma pintura branca na altura dos olhos. Todas suas roupas eram pretas, e trazia na outra mão uma cruz de madeira.

Aceitei o folheto e pus-me a lê-lo: “Manifestação: Apoio a Lei Muwaji”. Pensei que diabos seria aquela lei, merecedora do esforço daqueles vinte indivíduos que fincaram sua resistência e sua indignação em pleno centro de Belo Horizonte, num horário pouco aprazível para manifestações, 12h30.

Segue o folheto: “Infanticídio. Você já ouviu falar?” Era a frase que iniciava o primeiro tópico, que continuava com as seguintes palavras: “Centenas de crianças indígenas foram rejeitadas por suas comunidades nos últimos anos. Condenadas à morte por serem portadoras de deficiências físicas ou mentais, por serem gêmeas, ou filhas de mãe solteira, elas foram enterradas vivas, envenenadas ou abandonadas na floresta...”.

Isso parece interessante, concluí. Adiante, deparo-me com o segundo tópico: “O que é a Lei Muwaji?” Sou informado de que a dita lei, ainda em tramitação no Congresso, visa proteger os direitos das crianças indígenas, no intuito de impedir o que a manifestação já havia classificado como infanticídio. O nome é uma homenagem à índia Muwaji Suruwaha, que recusou-se a sacrificar sua filha, Iganani, portadora de paralisia cerebral. Lê-se no folheto que “Muwaji enfrentou não só os costumes de sua comunidade indígena, mas também toda a burocracia da sociedade nacional, para garantir a vida e o tratamento médico de sua filha”.

Forneço minha opinião sem conhecimento profundo de causa, uma vez que não sou antropólogo, indianista, sertanista ou qualquer outro profissional dedicado ao estudo dos povos silvícolas. Porém, guardo um enorme receio quanto a ingerências em culturas apartadas de nossa realidade próxima. Claro, os índios fazem parte do Brasil, menos influenciam e mais são influenciados pelas decisões do governo e da sociedade civil organizada. Mas não trombamos ao acaso com índios legítimos perambulando pelas ruas de nossas grandes cidades, sequer nas interioranas. Por isso me valho do termo realidade próxima. Todos sabem que os índios existem, porém uma parcela ínfima da população lida diretamente com eles.

Retomando o raciocínio, em nossa ótica o “infanticídio” assombra, causa repulsa, revira as vísceras, é veementemente rejeitado. Consideramo-nos evoluídos, componentes de uma sociedade que consegue dobrar a natureza com suas ferramentas mais avançadas, que ricocheteia o vento da vida na traquéia dos pequenos que já nascem amaldiçoados. E acho esplendoroso que assim seja.

Daí a querer que nossos avós de pátria sigam os mesmos passos há uma distância enorme. Os índios decodificaram o mundo a partir de uma ótica particular, onde, simultaneamente, veneravam, temiam e se valiam da natureza para seguir os rumos traçados pelo Deus Sol, ou Lua, ou qualquer Deus que lhes conviesse eleger. Tinham a exata percepção de que uma criança incapaz de produzir em favor da coletividade, seja na caça, nas guerras, na agricultura, na reprodução da tribo, era uma âncora que poderia frear o destino de todos. Não há maldade no ato de eliminar essa âncora, pelo contrário, a visão coletiva é tão arraigada nessas culturas que a morte da criança é vista, inclusive pelos pais, como absolutamente necessária. Ou era, até aparecer Muwaji.

Direitos humanos? Sim, um grande avanço irrefreável, necessário, que evidentemente trouxe mais benfeitorias que malefícios. Os índios não são seres humanos? São, é óbvio. Então os direitos humanos não são aplicáveis a eles também? Claro, mas, em minha visão, somente se os índios optarem por essa possibilidade. Manifestações na Praça Sete que visam defender os pobres e inocentes índios de seus próprios irmãos soam como um exagero, uma violação, daquelas que os pais costumam aplicar aos seus filhos por acreditarem que estes ainda não se encontram prontos para o mundo.

Concordo que em muitas das culturas indígenas onde o infanticídio é prática recorrente o modo de vida se assemelha muito mais ao nosso que ao de seus ancestrais. Mas também acredito que outras tantas ainda preservam de maneira relativamente intacta seus costumes, ritos e sacrifícios, sua engenharia social que até hoje foi capaz de lhes fazer progredir, ao seu próprio ritmo.

Por fim, destaco rapidamente um outro ponto: por que não existem manifestações contra o infanticídio praticado pelo Estado, que ceifa a vida de milhares de pequenas almas todos os anos? Por que não lutar por uma melhora estrutural que reflita diretamente em nossos desdentados, estes que participam de nossa realidade próxima? Por que só há mobilização para questões consideradas “cult” (cultuado nos meios intelectuais e artísticos, segundo o Houaiss), como a defesa do ambiente, dos próprios índios, de uma vida light, a luta contra a poluição? Porque nada mais “cult” que passar a ir trabalhar de bicicleta para poluir menos. O problema é o ar-condicionado ligado oito horas por dia no desenrolar do labor, visto que o conforto é essencial. Quando os desgraçados serão eles também “cult”? Eu mesmo respondo: quando forem sacadas da palavra “cult” as letras “l” e “t”.

Onde estão os que assim agem?

"Política silogística é a arte de construção no vácuo. A base são teses e não fatos; o material, idéias e não homens, a situação, o mundo e não o país, os habitantes, as gerações futuras e não as atuais".


"As retiradas são o supremo esforço do general e exigem a máxima solidez da tropa. A um amigo que uma vez o comparava aos grandes generais da história, Moltke (marechal de Bismarck) interrompeu dizendo: - Ainda não comandei uma retirada."

Joaquim Nabuco - "Balmaceda" via Ex-blog do César Maia

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Teste

Bem meus caros, o Viagens de Gulliver estreia sua radiola digital. Agora, ao mesmo tempo em que você lê as inutilidades aqui publicadas, também poderá curtir uma musiquinha, que do seu gosto não sei se é. Afirmo que é do meu. Ali, no alto à direita, está o player. Se quiser ficar em silêncio, vá lá e aperte o stop, ou o pause, no caso. Esta é apenas uma pequena seleção inaugural, que não pôde ser mais encorpada devido ao horário em que posto. Mas nos próximos dias a Rádio Gulliver terá sua primeira playlist honesta, que ecoará por todos os rincões da teia digital. É isso!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Senna x Piquet

A maior ultrapassagem da história. Isso é a excelência!

Era bom demais...


... para ser verdade. Por um momento cheguei a acreditar na seriedade desse país. Mas já deveria estar acostumado, as coisas aqui andam no ritmo da conveniência, da conveniência dos safados. Minha esperança foi decepada a golpes de machado. Agora, o que resta é cuspir as pragas do mundo na cabeça daqueles que encenam o pior espetáculo da Terra. E não adianta apenas não votar nos corruptos. Apesar de esse instrumento ser capaz de eliminar um bom número de canalhas, a infecção é generalizada, a contaminação se espraiou por todos os gabinetes de todos os poderes. O país sucumbiu, e há muito tempo.

À vista de todos nós, num flagrante atropelamento da decência, da certidão, o delegado Protógenes Queiroz foi afastado da investigação do caso Dantas. Sem eira nem beira, afixaram em nossa cara um atestado de palhaço-cidadão. Inacreditável. É demais, é demais, é demais!

O rolo é tamanho, expõe a podridão de tantos, que ousaram valer-se da sacanagem explícita, o último refúgio dos ratos. “Se isso continuar, não sobra pedra sobre pedra, todo mundo já era”, imagino serem estas as palavras que guiam muitas das conversas entre os envolvidos. E ouso dizer que a maioria daqueles que nos últimos dez anos rastejaram pelos bastidores do poder carregam lama na sola dos sapatos.

Podemos esperar mais o quê? Mais nada! Depois deste caso, duas lições podem ser aprendidas. Primeiro, as instituições do Estado brasileiro sempre estão sujeitas aos grossos dedos dos poderosos, que rasgam o hímen da ética e da virtude. Segundo, quanto maior for a distância entre os de bem e a política mais cartazes serão pregados em nossas caras. Os palhaços-cidadãos serão formalizados, e nunca mais ninguém sorrirá nesse picadeiro sórdido.