quinta-feira, 29 de março de 2007

Pan do Brasil – Mais uma farra verde e amarela!

Entre os dias 13 e 29 de julho o Brasil sediará a 15° edição dos Jogos Pan-americanos, no Rio de Janeiro. A competição contará com 42 países, que disputarão 33 modalidades esportivas. O país se mostra mobilizado, eufórico com a realização de tal evento nas terras tupiniquins. Há um clima de auto-afirmação transbordante, a organização dos Jogos seria uma mostra da capacidade brasileira, um retrato de nossa competência, um exemplo de grandeza que se faz ver em cada gota de suor derramada pelos atletas. Confesso que guardo ressalvas quanto ao Pan do Rio de Janeiro, por diversas razões.

Em primeiro lugar, considero os Jogos Pan-americanos uma competição esvaziada, de pouca relevância para o ambiente esportivo mundial. A começar pelo fato de a América do Sul não possuir tradição sólida em esportes como atletismo, natação, ciclismo ou handebol, por exemplo. Não há aqui atletas de ponta em diversas modalidades. Não há tradição também na América Central, excetuando-se Cuba, potência esportiva sim, mas um ou dois degraus abaixo dos gigantes. Resta o norte, onde os Estados Unidos, habituado ao alto do pódio, não enviará a sua equipe principal, formada por diversos recordistas mundiais. Competirá com um time B. Desconheço quais atletas do Canadá virão, porém, de qualquer maneira, o Canadá também não é lá essas coisas, foi o 24° colocado no quadro de medalhas das Olimpíadas de Atenas.

Não discuto aqui o porquê deste atraso esportivo, apenas constato que a região, noves fora dois países, é irrelevante no quadro mundial dos chamados “esportes especializados”, alcunha dada pela imprensa, que classifica assim todas as modalidades esportivas com menor apelo junto ao público. Uma medalha de ouro ganha num Pan gera menos reconhecimento que uma medalha de ouro ganha numa etapa de um campeonato mundial, como os de natação ou de ginástica. Isso é fato.

Me incomoda também o carnaval que a mídia realiza em torno dos Jogos. Três grandes emissoras de tv que compraram os direitos de transmissão, Globo, Band e Record, iniciaram uma lavagem cerebral em suas audiências. São programas, chamadas nos intervalos, matérias veiculadas em todos seus telejornais, assim como em rádios e revistas de sua propriedade. Uma massificação extrema do Pan, com uma cobertura predominantemente positiva. Óbvio, pois ninguém desvaloriza seu produto de venda. Atletas são apresentados como possíveis heróis, vingadores do esfomeado e raquítico povo brasileiro, reconstrutores da moral nacional. Infelizmente, a mídia não deveria seguir esse caminho, mas essa é outra discussão.

A grande imprensa não se atentou, ou fingiu não se atentar, para fatos que saltam às vistas no planejamento e execução do Pan. A começar pelos gastos com as obras de infraestrutura, inicialmente orçadas em R$ 800 milhões, o que para mim já é demais, e que já ultrapassaram a casa dos R$ 3 bilhões. Não houve uma averiguação profunda por parte dos veículos de comunicação sobre o porquê dessa discrepância entre estimativa e execução, com o agravante de que boa parte desse valor fluiu dos cofres públicos. Esse cenário exala um cheirinho desagradável, um odor que remete à prática já bastante utilizada pela classe política nacional, vocês sabem qual. Seguindo, creio que um investimento de R$ 3 bilhões numa competição esportiva, seja ela qual for, é exagero para um país que possui um investimento global presumido para 2007 de aproximadamente R$ 28 bilhões. Isso sem mencionar que a maioria das obras encontram-se atrasadas, gerando desconfiança quanto a estarem adequadamente prontas quando da realização da competição.

Outra falha da cobertura midiática é a inexistência de pautas que relatem os transtornos provocados pela execução das obras. Por exemplo, 542 casas que circundam a Vila do Pan já foram demarcadas com tinta para demolição, antes mesmo que um acordo de desapropriação fosse fechado, o que caracteriza a expulsão dos moradores por parte do Estado. A alegação da Prefeitura foi de que as residências se encontram em área de risco. Então, por favor, iniciem já a desapropriação de todos os barracos das favelas cariocas, pois a maioria deles estão em situação de risco.

A poeira levantada pelos canteiros de obras gera problemas respiratórios como asma, bronquite, sinusite e alergias nos moradores vizinhos. Uma mulher passou a arcar com R$ 75 mensais para a compra de vacina anti-alérgica para sua filha. Outra se viu obrigada a providenciar a mudança de sua mãe de um local vizinho às obras do Estádio João Havelange, devido ao agravamento de uma bronquite. São fatos isolados, mas que se analisados em conjunto podem refletir a desorganização que alicerça a logística e o planejamento dos Jogos. Há como se evitar tais transtornos, bastaria que tudo fosse feito com competência, preparo e inteligência.

O absurdo maior. Vários canteiros de obras abrigam focos de larvas dos mosquitos da dengue. Um dos funcionários contraiu a doença duas vezes, e afirma que há larvas presentes em lajes e reservatórios de água das obras. Inacreditável, o governo, tanto estadual quanto federal, gasta milhões conscientizando a população sobre os riscos e as maneiras de se evitar a proliferação da doença, ao mesmo tempo que obras de sua responsabilidade se transformam em criadouro e disseminadores da dengue. Coisas de Brasil, e que infelizmente não atraíram a atenção da grande mídia, creio eu, por comodidade, desleixo e interesse na realização de um Pan limpo e perfumado.

Para finalizar, aí vai uma notícia que condensa tudo que foi dito: a pista de patinação de velocidade construída para o Pan não seguirá os padrões oficiais, sendo feita de um piso inusual para tal competição, além de não trazer uma inclinação de 15° em suas curvas, exigência seguida em todo mundo. Motivo de vergonha ou embaraço? Nada disso. Segundo o técnico da equipe brasileira, agora as nossas chances aumentaram, pois os atletas terão mais tempo para treinar no local que as equipes estrangeiras, o que lhes conferirá uma maior adaptação às peculiaridades da pista. Se não é possível levar o ouro pela competência, que seja através de fatores externos à excelência esportiva.

Estes são alguns argumentos pelos quais justifico minha discordância com a festividade, digo, com os Jogos. E o argumento de que uma competição como essa deixa marcas positivas para a imagem da cidade do Rio, e conseqüentemente do Brasil, além de gerar uma infraestrutura que poderá ser aproveitada posteriormente me causam dúvidas. Para tal, é necessário dispor de um plano bem elaborado, que contemple os mínimos detalhes e que englobe um largo horizonte temporal, coisa que aparentemente a organização desse Pan não se preocupou em buscar. Normal, muito normal em se tratando de Brasil!

terça-feira, 27 de março de 2007

Algumas Lições

"Em primeiro lugar, e acima de tudo, não pode haver prestígio sem mistério, pois a familiaridade produz o desprezo. Todas as religiões possuem o seu 'santo dos santos' e nenhum homem é um herói para o seu 'empregado de quarto'. Os projetos, o comportamento, as operações mentais de um líder, devem possuir sempre um 'algo' que os outros não conseguem entender, que os intriga e que os agita, atraindo a sua atenção. Esta atitude de reserva exige, como uma regra, uma economia correspondente de palavras e gestos. Nada reforça mais a autoridade que o silêncio. O silêncio é a maior virtude do forte, o refúgio do fraco, a modéstia do orgulhoso, o orgulho do humilde, a prudência do sábio, e o bom senso dos tolos". De Gaulle


"A maioria das pessoas desvaloriza aquilo que facilmente entende, e veneram o que não entendem. Para serem bem valorizadas, as coisas devem ser difíceis. Para conquistar o respeito, pareça mais sábio e mais prudente do que seria exigido pela pessoa com quem você está tratando. Faça com que ele fique intrigado e tentando entender o significado do que você falou. Mas faça-o com moderação". Garcián

O homem que é movido por desejos ou por medo, é conduzido naturalmente para buscar alívio nas palavras. Se ele cede à tentação é porque, ao externalizar sua paixão ou seu terror, ele tenta lidar com eles. Falar é diluir o pensamento, é dar vazão ao ardor, em suma, a dissipar a força, enquanto que a ação exige a sua concentração. O silêncio é a preliminar necessária para o ordenamento do pensamento. Os homens instintivamente desconfiam de um líder que fala demais. Mas este hábito sistemático de reserva, adotado pelo líder, produz pouco ou nenhum efeito, a menos que seja percebido como a forma pela qual ele oculta a sua firmeza e determinação. É precisamente do contraste entre poder interior e controle externo que a ascendência é reconhecida, assim como o estilo num jogador consiste na sua capacidade de mostrar mais frieza que o usual, quando aumenta a aposta, e a qualidade de um ator está em mostrar emoção, mantendo controle sobre si". De Gaulle

segunda-feira, 19 de março de 2007

O Destino e os Homens



A vida parece correr nos conformes. A cabeça é requisitada somente para desatar os nós do dia-a-dia. O coração bate robusto, vivo, nutrido pelo amor a alguém. Os projetos de vida vão um a um ganhando forma, se concretizando na pueril estrada do futuro. Os sonhos se apresentam mais próximos, as conquistas comprazem a alma, os elogios enaltecem a capacidade de ser e agir. E, de repente, ele age de maneira inesperada, trazendo consigo a tristeza, a decepção, o lamento, a perda, a visão de que o trem da vida descarrilou. Ele é o destino.


Num primeiro momento, o desespero de sentir os pés se desgrudarem do solo firme é acachapante. Logo exclamamos, taxativos: “Não há mais volta”. Procuramos então os culpados e as razões pelas quais o destino apontou sua arma contra nossa tranqüilidade. Esquecemo-nos de que ele é isento de culpa e age sem motivos maiores, ele simplesmente acontece. É inexorável e incompreensível. Podemos até tentar controlá-lo, mas nunca conseguiremos, não da maneira como prevemos. Ele é tão arredio quanto o mais selvagem dos animais. Até aqui todos somos iguais.

Mas a maneira como lidamos com o imprevisto é que nos diferencia, a ação ante o obstáculo separa os fracos dos grandes, faz brotarem os homens e secarem os medíocres.


Há os que habitam a margem da angústia e do lamento. Estes adotam a companhia das lágrimas, e nelas se afogarão. Serão engolidos pelos acontecimentos e murcharão. Permanecerão resignados, queixando-se e queixando-se até que as cortinas do espetáculo se fechem. E quando isso acontece não há tempo para mais nada, muito menos para as lamúrias.


Do outro lado do rio da vida encontram-se os que se nutrem das dificuldades. Estes enxergam em cada infortúnio um aprendizado, uma possibilidade de exercitarem sua capacidade de superação. São homens que realizam a mais nobre ação de um ser: o tentar. Estes não se intimidam com a possibilidade do fracasso, estão dispostos a carregar em seus ombros o peso do Sol caso isso lhes proporcione a vitória. A rendição transmuta-se no mais vergonhoso dos pecados.


Óbvio que nem todos que tentam conseguem postar-se no altar dos gigantes, mas com certeza tombam com a sensação de dever cumprido. Reconhecem a potência do destino, mas não o temem, apenas o respeitam. Não se sentem derrotados, pelo contrário, experimentam como ninguém o calor da atitude. Os que se resignam ao se depararem com os espinhos do destino terão sempre suas chagas expostas, infeccionadas, serão sempre reconhecidos como fracos e impotentes.


É melhor aprender com as peças que o destino nos prega, pois a vida nada mais é que uma montanha-russa, com suas subidas lentas e graduais entremeadas por quedas bruscas. Aprendendo com as dificuldades, não mais berraremos quando a descida estiver à nossa frente.

segunda-feira, 12 de março de 2007

A Fé, Comodite Internacional

Num mundo globalizado, a fé não poderia ficar para trás. Estão aí links para sites da Igreja Universal em alguns países. Creio que esteja próxima a eleição de Edir Macedo como um dos maiores executivos do mundo. Crédito ao Ex-blog do César Maia:

Rússia

Japão

Itália

Inglaterra


terça-feira, 6 de março de 2007

As Raposas


O deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) admitiu o uso de dinheiro público para a compra de matérias jornalísticas em um jornal de seu estado, o Tribuna do Norte. Um agravante, o veículo é de sua propriedade. Não é necessário dizer mais nada. Isto explica tudo, a violência, a corrupção, o atraso, a impunidade, o lamaçal educacional, o esgoto a céu aberto, a decapitação do verde. É a prova cabal da ausência de verdadeiros homens públicos em nosso templo da política. E pior, a confissão, que em qualquer lugar menos fantástico que o Brasil faria com que o político fosse sumariamente excluído da vida pública e postaria o jornal no limbo da desfaçatez jornalística, da completa falta de ética, ainda não se transmutou em nada. O deputado continua dispondo de seu gabinete confortável e aromatizado, provavelmente bebericando um bom vinho em um dos restaurantes de Brasília. O jornal continua em circulação, tranqüilo, seguindo sua rotina jornalí$tica. E pior, outro deputado, Osvaldo Reis (PMDB-TO), também foi pego em prática semelhante, a diferença é que o veículo não era de sua propriedade. Mais um retrato do Bananal Brasil.

O Bananal Brasil


Uma notícia digna de um país de terceiro mundo, quarta grandeza, quinta categoria. Segundo reportagem veiculada no jornal Folha de S. Paulo, de autoria da repórter Lilian Christofoletti, a Polícia Federal atuará para que George W. Bush, em visita ao Brasil, não assista a possíveis manifestações contrárias à sua estada em solo tupiniquim. Mas, pelo amor de Deus, o que é isso? Um governante execrado mundialmente devido à sua inépcia política, suas estratégias equivocadas que empurraram ainda mais o planeta para a desordem, sua linha de atuação unilateralista, ser tratado com tanto esmero em nosso país? Que o deixem presenciar as manifestações, que o deixem sentir a rejeição provocada por suas próprias atitudes enquanto presidente da potência do norte. Ele, e nenhum outro governante, deve ser apartado do calor do povo, mesmo que muitas vezes o calor do povo não seja a voz da verdade e da racionalidade. Este é mais um sintoma de um país que arregaça suas calças e posta-se de joelhos ante o dito “mundo desenvolvido”.

Preparem-se!!!


Senhoras e senhores, preparem-se! Em 2036, segundo o jornal espanhol "El Pais", um asteróide alcunhado Apofis virá de encontro ao nosso querido lar, causando estragos que nos varrerão da face do planeta. Em 2029, um presságio da tragédia será sentido, quando o mesmo asteróide colocará em colapso a rede de satélites responsáveis pela comunicação global. É isso, aproveitem enquanto é tempo, caso acreditem em tal informação. Leia aqui a matéria original.

E a vida continua...



Então agora devemos todos debater, com ar pomposo e de alta sabedoria, o problema da segurança pública nacional. Basta um caso, dos mais execráveis, diga-se, para que a comoção nacional empurre todos na direção da exaltação, do linchamento público dos culpados, dos discursos acalorados, porém quase sempre vazios. Não é dessa maneira que um problema tão grave é solvido, não é saudável a criação de mártires nessa seara, como a mídia fez com o menino João Hélio.

Primeiramente, espanta assistir a mobilização da sociedade somente a partir de acontecimentos pontuais, que envolvem quase sempre a classe média e alta. Aqui não desdenho do ocorrido ao garoto, vítima de uma atrocidade selvagem, mas critico o comportamento tão passivo de todos ante a violência sofrida diariamente pelos habitantes das áreas periféricas, reinos onde o poder é imposto pelo calibre mais potente. Lá, onde a vista só chega através das câmeras, muitos João Hélios são mortos diariamente. Não cabe discutir qual maneira de se matar é a mais bárbara, pouco importa. O importante é termos consciência que a população de baixa renda almoça o chumbo do crime diariamente.

Gostaria de ouvir vozes indignadas quando garotos favelados são mortos pela polícia, que oferece sempre a mesma justificativa: troca de tiros com traficantes. A imprensa não procura apurar corretamente o ocorrido, muitas vezes inocentes são fuzilados pelo Estado. Agradar-me-ia ser convocado para uma manifestação quando uma bala perdida perfurasse o crânio de uma criança de dois anos, que dormia em seu berço dentro do barraco de madeira e lona que seu pai conseguiu construir. Ficaria satisfeito assistir aos acadêmicos, políticos e membros da sociedade civil organizada iniciarem um debate construtivo em razão da prisão de inocentes, pobres, que vêm sua vida, sua moral e sua dignidade serem estraçalhadas pelo sistema prisional brasileiro, tudo porque não dispunham de recursos para arcar com as despesas de um bom advogado. E sentiria imensa alegria ao presenciar a mídia se mobilizar com tal afinco em defesa desses transparentes cidadãos de segunda ou terceira classe, impotentes, sem voz, sem autonomia, sem direitos.

Volto a repetir, aqui não faço troça do ocorrido ao garoto, e acho sadio que o debate, ao menos aparentemente, ganhe contornos mais sólidos. Mas me entristece a perspectiva de que tudo isso seja esquecido, até que a os dez ou quinze por cento mais abastados voltem a sofrer um golpe horrendo da violência. Enquanto isso, aqueles que possuem os tiros como despertador que suportem a sua vida tocada no fio da navalha.