domingo, 27 de julho de 2008

Outra forma de lutar


MST cria sua própria estrutura de ensino

Escola financiada por Chávez forma pedagogos técnicos em agroecologia

A educação é hoje uma das principais preocupações do MST. Além de pressionar o Incra para a criação de mais vagas para os assentados em universidades públicas, o movimento também monta aos poucos sua própria estrutura de escolas. São exemplos disso a Escola Latino-Americana de Agroecologia e a Escola Nacional Florestan Fernandes, que ministram cursos de especialização de nível superior.

A Escola Latino-Americana, montada com recursos oferecidos pelo presidente Hugo Chávez, da Venezuela, funciona no município de Lapa, região metropolitana de Curitiba, e forma pedagogos especializados em agroecologia. Segundo seus diretores, defende uma nova matriz de produção rural, que leve mais em conta questões políticas e ambientais.

A Florestan Fernandes, situada no município de Guararema, interior de São Paulo, tem um leque mais amplo de cursos e atua como parceira de algumas universidades. É o caso da Fundação Santo André, instituição municipal da região do ABC paulista.

Em 2005, quando a fundação e o Pronera firmaram um convênio para a criação do curso de bacharelado em gestão de organizações sociais e cooperativas, ficou combinado que parte do curso seria ministrada na Escola Nacional.

As escolas do MST também oferecem cursos de formação política para seus militantes.

Uma das maiores dificuldades enfrentadas hoje nos assentamento está relacionada ao ensino médio. Em algumas regiões fala-se em envelhecimento da população da reforma, devido ao fato de a grande maioria dos jovens mudar para a cidade, para cursar o ensino médio. Essa não é uma dificuldade só dos assentamentos: atinge outros setores da zona rural.
(Estadão)

Mas e aí? Não é justamente isso que é cobrado do MST? Que seus assentamentos produzam, sejam auto-sustentáveis? Como se conseguirá isso sem educação? Não é correta a idéia de formar uma geração de integrantes qualificados, para que possam promover essa mudança? O errado é misturar a política? O MST é uma organização eminentemente política, com objetivos traçados, ideologia arraigada, estrutura hierárquica bem delineada, desfrutando de aliados e inimigos. É normal e recorrente que esse tipo de organismo se preocupe com a formação intelectual dos sucessores, para que o movimento não perca sua marca, sua alma.

Que fique claro, tenho conhecimento pleno dos desvios que alguns integrantes da cúpula do MST insistem em cometer, valendo-se da mobilização de milhares para promover interesses individuais. E estes são os que acabam por influenciar as ações da base, composta pelos que dormem em barracas de lona preta. O Movimento tem um milhão de erros, imperfeições, radicalismos e anacronismos. Concordo. Mas possui também um milhão de acertos.

Procurem se informar sobre os assentamentos que deram certo, alguns com cerca de seiscentas pessoas vivendo em um abiente totalmente comunitário, de produção coletiva e partilha igualitária dos lucros, comercializando uma variada gama de mercadorias derivadas da pecuária e agricultura. Estes assentamentos possuem regras claras, como a pena de expulsão para o roubo, por exemplo. As delinquências têm um nível de ocorrência muito baixo ali. Estas localidades baseiam-se no investimento visando a aprimoração da produção, tal qual uma empresa que trabalha pelo seu crescimento. A diferença é que a turbina propulsora dos assentamentos não é abastecida pela ganância desenfreada.

Portanto, não há motivo para o jornal imprimir um caráter deletério ao fato. É por essas e outras que os movimentos sociais de esquerda tanto batem na tecla da grande imprensa, que noticia o certo e o errado da mesma maneira ruim. Ademais, o Chávez participar disso não é motivo para histeria. Ele patrocinou uma escola de samba carioca há pouco tempo atrás e a imprensa não bateu forte, pois se tratava do carnaval, festa de apelo popular, não fica bem denegrir a imagem de um ícone de nossa cultura. Ainda mais sendo o carnaval do Rio. Que não venham com insinuações agora.

Aplausos para a iniciativa do MST de qualificar seus membros, pois assim o Movimento poderá evoluir, buscar novos caminhos e estratégias, alcançar seu objetivo primordial, a reforma agrária, valendo-se da mais poderosa das ferramentas: o conhecimento.

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