sábado, 26 de julho de 2008

O valor de um supercílio


Irmão de Tasso Jereissati sofre acidente em Saint-Tropez


Bruno Astuto


Rio - O empresário Hugo Jereissati, irmão do senador Tasso e do empresário Carlos Jereissati, sofreu acidente na última sexta-feira em Saint-Tropez. Ele caminhava desavisado quando deu de cara com um poste e abriu o supercílio. Um avião fretado o levou a Paris imediatamente para os reparos. (O Dia Online)

Essa "notícia" merece três considerações. A primeira, a mais óbvia, é o gigantismo da frescura desse tal Hugo Jereissati. Um avião fretado, Paris, hospital, imprensa, tudo isso por causa de um supecílio aberto? Caso o distinto venha a quebrar um braço, creio que o mundo entrará em colapso. Enquanto uns têm aviões para tratar do supercílio, outros desfrutam de um delicioso dia de espera em uma fila, simplesmente para escutar a voz seca da atendente dizendo: "Só amanhã, acabaram as senhas, e além disso médico pro seu caso só lá no hospital... como é mesmo o nome daquele hospital lá do outro lado da cidade Jurema?".

A segunda observação refere-se ao caso Daniel Dantas. É uma prova na verdade. Leiam as matérias da revista Veja sobre a compra da Brasil Telecom pela Oi. Em nenhum momento a revista cita que Carlos Jereissati, um dos cabeças à frente do "maior negócio do capitalismo brasileiro", como designou a imprensa, é irmão do senador Tasso Jereissati, do PSDB. Um negócio que demandou a investida direta do governo para se concretizar, visto a mudança na legislação aprovada às pressas para regularizar a transação, que envolveu diretamente o irmão de um emplumado político, e nada é mencionado? Uma linha sequer? Mesmo Tasso fazendo parte da oposição, a capacidade de influência que o senador possui ainda é grande. Ele é um político "histórico", para o bem e para o mal, mais para o mal. Mas claro, a revista trabalhava para Dantas, e não poderia de maneira alguma levantar suspeições sobre o negócio que o chefe mais ansiava por selar. O que assusta mais é que a mesma situação teria outros desdobramentos caso os atores fossem diferentes. Imaginem se os personagens fossem correligionários do PT ou de qualquer outra agremiação que não é vista com bons olhos pela revista? A gritaria espatifaria cristais. Um adendo. A imprensa deve acompanhar de muito perto o negócio Oi/BrT, independentemente de quem participa da ação. São interesses potentes se cruzando, mil glutões lutando por um prato de caviar.

Por fim, a última consideração trata do nome do repórter designado para escrever tão importante matéria. Nada contra o profissional em si, as pautas caem em nossos colos e não há muito o que se fazer sobre isso, principalmente em grandes redações. Mas não poderia perder a piada, não é mesmo Bruno Astuto? Perfeito!

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