terça-feira, 29 de julho de 2008

O bafo da onça

Fotos: Dário Félix

Este é Onça. Ele gosta de beber. Prefere cachaça, mas enfia goela abaixo o que aparecer, em estado líquido, que fique claro. Onça se presta a comandar o trânsito de Rio Piracicaba, minha querida terra, nas horas caóticas, entre 18h30 e 18h31, quando se cruzam dois carros, um caminhão e quem sabe uma carroça ou uma bicicleta na curva do açougue, próxima à ponte sobre o rio que batiza a cidade. Nesses momentos Onça entra em ação, assobia, ameaça, se diz oficial da lei, manda prender e soltar. Dizem que ele é doido. Não sei. Nunca o vi sóbrio, ou seja, um sujeito desse tem algo que nós não temos. Recentemente sofreu um derrame, mas ainda assim não se levantou da mesa. Ainda mama na garrafa, de pinga. Ele não tem mais dentes, apenas alguns resquícios pontiagudos e pretos na boca. Creio que Onça seja inofensivo. Mas não poria minha mão no fogo. O que Onça acha de nós? Ele não dá a mínima. Simplesmente pensa assim: fodam-se! Certo? Errado? Quem é capaz de apontar? Desde criança o vejo assim, nesse eterno amor com a embriaguez. Aposto, Onça nunca sofreu de depressão, não se preocupa com a inflação dos alimentos, não tem que acordar cedo, não paga imposto, não recebe salário (por isso não se preocupa quando ele está no fim), não passa fome, não tem dor de cabeça (segundo ele mesmo diz), não tem filhos (também não tem que pagar pensão), não duvida de Deus, não acredita nos políticos (mas sempre está perto de algum deles), tem elevada auto-estima. E é profundo conhecedor das leis de trânsito. Ainda não sei como reagiu com os motoristas após a entrada em vigor da lei seca. Acho que ele não perdoaria ninguém, afinal sempre respeitou a lei, por isso mesmo nunca comprou um carro. Onça gosta de filar cigarros. Enfim, Onça é como alguns de nós, e melhor que outros.

Acima e ao lado, Onça transgride as regras do capital e dorme dentro do auto-atendimento do BB de Piracity. Um contestador nato, diria, além de muito esperto. Era verão, noite quente, e lá tem ar-condicionado.

Um comentário:

Frederico disse...

onça, de burro, nada tem!