sexta-feira, 11 de julho de 2008

O melhor romance de todos os tempos


Cada vez mais esse país me dá nojo. E me dá esperança. Explico.

Todos estão cientes do tufão provocado pela prisão do até então Rei do Brasil, Daniel Valente Dantas. E valente o sujeito era, de verdade. E corrupto. E inteligente ao extremo. Aliás, todos os grandes criminosos o são. Mas a história por detrás da mais importante operação da Polícia Federal da história é um romance, que nenhum escritor conseguiria relatar de maneira tão arrebatadora.

Daniel Dantas é um criminoso internacional. Suas relações esbarram nos maiores conglomerados empresariais do mundo, que além de empresas de telefonia, como a Telecom Itália, envolviam corporações como a Pirelli, maior conglomerado empresarial da Itália. O sujeito era um mafioso internacional, com entrada em qualquer círculo onde o dinheiro era o anfitrião.

E por que digo que o país me dá nojo e esperança? Primeiro, me dá nojo por ver tudo o que aconteceu até a prisão do delinquente, quantas autoridades foram compradas, quantas instituições maculadas, quantos desvios impostos à legalidade realizados por apenas um homem, que carregava a chave-mestra para qualquer porta: o dinheiro.

Dantas comprou todos, partidos políticos (e óbvio, políticos), juízes, policiais, empresários e jornalistas. O mundo girava à velocidade determinada por ele. Já havia se safado de vários processos, de vários imbróglios que jogariam na cadeia um cão menor. E por isso ele não fugiu, como disse Bob Fernandes, por acreditar em demasia em seu poder.

Me dá nojo também saber como foi fratricida a disputa interna na polícia para prendê-lo. A própria polícia foi o maior empecilho para que e a Operação Satiagraha se desenrola-se, claro, por influência de Dantas e seu dinheiro. Esvaziamento da equipe, de recursos materiais, pressões vindas dos palácios, tudo para impedir que o Rei ficasse nu.

Me dá nojo também ver como a imprensa foi totalmente manipulada, não sutilmente, mas financeiramente, pelo grupo mafioso. Vários jornalistas habitantes de páginas renomadas na imprensa nacional estão na lista de assessores informais de Dantas, reproduzindo em seus escritos a voz do chefe. Vergonhoso, vergonhoso, vergonhoso.

Me dá nojo ainda me deparar com uma discussão cínica e menor, sobre a espetacularização da operação. Ora, meu Deus, a polícia desmonta o maior grupo criminoso do país, manda para a cadeia especuladores internacionais, com intervenção até mesmo no Banco Central Americano (FED), expõe os porões do poder, joga luz sobre como se dão os acertos e conchavos escusos tão rotineiros por aqui, e a imprensa, que sai tão suja da história como o próprio Dantas, se presta a discutir se deveriam ter sido usadas algemas, se a tv deveria estar presente, e outros tantos temas de menor relevância num momento histórico como esse. Claro, como a imprensa está na linha de fogo, desmerecer o acontecido é a primeira reação.

Mas me dá esperança ver como um delegado a PF, Protógenes Queiroz, enfrentou a sabotagem interna de seus companheiros, não se rendeu a nada, valeu-se de sua sagacidade para esconder os pontos cruciais da operação até mesmo de seu chefe, o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Pois se Dantas tomasse conhecimento de fatos sigilosos da operação em curso, provavelmente conseguiria anulá-la. E quase o fez.

Me dá esperança saber que essa cruzada contra o crime dos grandes, os de colarinho branco, já vinha sendo travada há anos por jornalistas como Luis Nassif, Mino Carta, Paulo Henrique Amorim, Bob Fernandes e outros. Eles já haviam cantado a pedra há muito. Mas, como a grande imprensa está até o pescoço envolta na sujeira, ninguém repercutiu.

Um capítulo da história do Brasil, que até então era escrito com desonra, sordidez, corrupção, traições, disputas ferrenhas e imorais, foi finalizado com palavras de mestre, de pura altivez e compromisso com isso que chamamos Brasil.

Deixo aqui o link do Terra Magazine, a melhor cobertura do caso, indiscutivelmente. Leiam tudo, cada palavra lá escrita é importante, é crucial para entendermos como as coisas funcionam. De verdade.

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