segunda-feira, 26 de maio de 2008

A Sonda Espacial


Leio que uma sonda espacial, chamada Phoenix, pousou no solo marciano no último domingo, dia 26 de maio. Lançada em 4 de agosto de 2007, ela rasgou o universo por 680 milhões de quilômetros até colocar suas patas metálicas na superfície do planeta vermelho. O motivo da visita? Confirmar a presença de água em Marte, uma vez que os cientistas acreditam que ela esteja a 10 centímetros da superfície, congelada. Encontrando água, a possibilidade de que haja vida é enorme.

Uma pergunta me vem à cabeça: e se forem encontrados resquícios de vida lá, em Marte, o que acontecerá? Porém, a vida extraterrena em si não é minha maior preocupação. Me delicia a análise de como será recebida a notícia aqui. Pois, se for confirmada a presença de vida em outro planeta, teremos que reconstruir nosso modus operandi social.

O primeiro golpe seria desferido contra as religiões. Todas elas, sem exceção. Todos se perguntarão, “mas se há vida em outro planeta, não somos os únicos agraciados pelas divindades com o presente do nascer”. Boom! Milhares de anos de crenças, mitos, dogmas, ensinamentos, tudo aniquilado por uma Phoenix, que assim como o pássaro dos mitos gregos, nos fará renascer das cinzas. Sim, pois caso se confirme a existência de microorganismos lá, nós, os microorganismos daqui, perderemos a condição de preferidos de Deus.

Todos se questionarão se realmente o paraíso é reservado somente aos humanos ou se teremos que dividir a atenção Dele com seres estranhos dos quais não sabemos absolutamente nada. O homem se verá obrigado a largar a arrogância de lado e a pensar de um jeito totalmente diferente. Teremos que abdicar de nosso nariz empinado, a força dos fatos comprimirá o ego e a arrogância daqueles que se consideram únicos. Seremos obrigados a nos aceitar iguais a uma samambaia, a uma minhoca, a um rato que passeia livremente entre nossos excrementos.

O que dirão os padres aos fiéis que os procurarão ávidos por uma resposta, “mas padre, Deus não nos criou à sua imagem e semelhança? Como Ele pode ser o pai daquelas criaturas também?”, dirão, ofegantes, beatas em completo desespero por perceberem que foram enganadas pela única entidade que nunca poderia fazê-lo, Ele.

Os protestantes também sofrerão as conseqüências do exame de DNA que começa a se desenrolar em Marte. Eram crédulos de que o paraíso estaria garantido para aqueles que dessem duro aqui, nessa extenuante labuta diária do viver. Descobririam que seria necessário dividir o espaço com seres talvez amorfos, talvez verdes, talvez com dois olhos na sola do pé, talvez gosmentos, sabe-se lá. A abdicação de prazeres terrenos em troca do trabalho visando uma boa cadeira no paraíso seria tão útil quanto revistas de celebridades.

Obviamente as igrejas iriam negar tal fato, manteriam a convicção de que Deus nos fez e a só nós. Sustentariam que ainda somos os preferidos, que o paraíso, assim como o inferno, continua lá, de portas abertas para os filhos do Homem. Mas seria cada vez mais difícil sustentar tal tese.

As crianças aprenderiam desde cedo que a vida está espalhada por todos os poros do caldo negro chamado universo. Teriam a certeza de que não são únicas e que nada nessa vida foi feito sob medida para elas, vivendo assim numa tranqüilidade que até hoje não foi vista. Respeitariam naturalmente as outras criaturas, sem ao menos necessitar de aulas de educação ambiental. Seriam ousadas, permitidas a imaginar não mais somente o que a terra tem a oferecer, mas sim o que as galáxias podem nos trazer. E não teriam medo de castigos póstumos, assim como não aceitariam a idéia de que um mundo encantado as espera assim que seus olhos se fecharem para sempre.

Gostaria de continuar a desenvolver a idéia, fica para a próxima. De qualquer maneira, se tudo que conjecturei realmente fosse acontecer dessa maneira, teria uma alegria jamais sentida assim que lesse nas manchetes dos jornais: “Sonda espacial Phoenix encontra prova de que Marte possui vida”.

Um comentário:

Frederico disse...

desenvolva a ideia velho!