domingo, 11 de maio de 2008

Las Lobas Ciendientes - P3


Vocês devem estar se perguntando como um grupo de velhinhas, que supostamente queriam apenas viajar pela Grécia, se transformariam numa milícia das mais aterrorizantes do mundo. Eu também estou, pois até hoje não consegui compreender tal aberração.

Relato o dia em que descobri que minha sorte havia acabado. Fazia um calor saárico (perdão pelo neologismo barato), minha camisa estava ensopada e meus odores já tomavam conta daquele táxi. Estávamos no veículo eu, Dona Cissa, Dona Léia e Dona Marta. Rumávamos para a Acrópole de Atenas, local de visitação obrigatória. As outras velhinhas seguiam na van disponibilizada pela minha empresa. Porém, as três senhoras exigiram que o deslocamento fosse realizado em um táxi.

Num primeiro momento fui totalmente contrário à idéia, visto que o gasto com transporte já estava calculado e fechado. Um táxi alteraria a contabilidade prevista e certamente meus superiores introduziriam suas maldades em minha intimidade quando soubessem que fiz a empresa gastar mais que o necessário. Disse não, não e não. De nada valeu.

Dona Clô aproximou-se e sussurrou em meu ouvido:

- Escute menino. Estas três companheiras não andam em vans, de maneira alguma. Elas se sentem desconfortáveis com este meio de transporte, creio que se trata de um trauma de longa data. Dona Cissa, quando ainda guardava o frescor da juventude em seu ventre, foi violentada dentro de um veículo assim. Dona Léia perdeu seu marido num acidente automobilístico, ele era motorista de van. Já Dona Marta não gosta de vans porque acha que este é um meio de transporte não compatível com sua classe. Então, trate logo de atender o pedido e providenciar um táxi, antes que todas nós desistamos dessa viajem e rumemos de volta, sem completar o pagamento do pacote. Você não iria gostar disso, iria? Imagine seus chefes então...

- Mas Dona Clô, não posso fazer isso, não tenho autorização para atender tal demanda, não há como.

- Cale-se garoto e mova-se. Queremos chegar à Acrópole com o sol ainda vivo.

Tentei dialogar por mais vinte minutos, mas de nada adiantou. Dona Clô e as outras mostraram-se irredutíveis. Apesar deste contratempo, a desconfiança até então não havia nascido, pensei se tratar apenas de caprichos da terceira idade. Porém, naquela tarde viria a descobrir o porquê daquele táxi e quão importante ele seria para a execução do plano brutal e maligno que ali se desenrolava.

A barbárie das Lobas começaria a ganhar proporções gigantescas, e ninguém havia conseguido antever aquele monstro em gestação. Deus não poderia fazer nada, ele não foi convidado para aquele ato.
Continua...

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