quarta-feira, 21 de maio de 2008

O antigo lar de nossas alegrias


Acabo de ler que o automobilismo superou o futebol na atratividade de patrocinadores e investidores. A matéria está disponível no site da Gazeta Mercantil.

Segundo a matéria, entre as causas está o amadorismo com que o público amante do esporte bretão é tratado. São indicativos dessa situação o suplício vivido pelos torcedores em filas de ingresso, a falta de segurança nos estádios, a ausência inclusive de ídolos nos campos brasileiros. O estudo conclui que o futebol não sabe se expor como um espetáculo, como o faz o “circo” da Fórmula 1, para citar a maior categoria automobilística do mundo.

E as conclusões parecem óbvias. Nas pistas, tudo é armado para que o show aconteça, pilotos são verdadeiras celebridades, bravos deuses da velocidade, desafiadores dos limites humanos, seres apartados de nós, meros mortais. No futebol, alguns personagens são exóticos, alguns considerados ingênuos, até mesmo bobos e incapacitados. Muitos são motivo maior para comentários de cunho pessoal ao invés de profissional.

O dom da bola vem perdendo a vivacidade, enquanto o brilho do volante cega cada vez mais os meios de comunicação, por conseguinte, o espectador. Nossos pilotos sempre brilharam em terras distantes, nossos jogadores passaram a reluzir com tamanha intensidade lá fora só na década de 1990. Sentimos falta daquela trivela, daquela gaúcha, daquele golaço de bicicleta, jogadas que hoje são monopólio dos campos europeus. Patrocinadores não querem se vincular a campeonatos subalternos. Querem estar ao lado dos melhores.

O estudo chega a suas conclusões medindo a adequação ao público masculino e feminino, faixas etárias, geração de consumo, visibilidade na mídia e agregação de tecnologia e status.

Somente no critério de visibilidade na mídia o futebol pode vangloriar-se, visto que predomina em nossos meios de comunicação ante qualquer outra modalidade. Ainda assim, essa indústria esportiva não consegue se aproveitar de maneira efetiva e rentável dessa vantagem.

E de quem é a culpa? De todos nós. Diretamente, dos ratos da grama que há anos enchem os bolsos com as negociações escusas que inundam os porões do soccer. Indiretamente, de nós, torcedores, que não nos preocupamos tanto assim com o que se passa em nossos clubes, que legitimamos gestões de dirigentes que, apesar de serem claramente incompatíveis com a boa governança empresarial – sim, o pensamento de um clube-empresa é primordial para que qualquer passo mais ousado seja dado – conseguem títulos e embebedam a torcida com alegrias fugazes, que podem gerar tristezas eternas.

Falo isso e vejo claramente o Atlético-MG – por sinal, meu time de coração – que se encontra em uma situação muito pior na verdade, pelo fato de ter sido pilhado durante décadas e isto não ter gerado retorno algum para o clube, sequer um título de maior importância. Hoje colhemos os frutos, ou melhor, os frutos nos são enfiados goela abaixo.

Não sou muito afeito a escrever sobre o futebol. Acho chato, apesar de gostar muito de uma boa disputa travada em mesas de bares. Escrevo para mostrar que a lanterna vermelha já está acesa há muito. Minha preocupação com clubes que ainda hoje acham que o futebol é apenas uma paixão, relegando a parcela empresarial para um segundo plano, é grande. O receio de ver extintos símbolos tradicionais de nosso esporte de alma é real. O mundo muda e inunda.

Há 100 anos assistimos o domínio do futebol ante outros empreendimentos esportivos. Isso não quer dizer que a fonte será eterna. Se hoje, com a predominância em matéria de audiência, vários clubes vivem de migalhas, não conseguindo sequer quitar salários em dia, imaginem quando o esporte preferido for o automobilismo, ou o tênis, ou o vôlei ou qualquer outro. O negócio vai ficar preto e a única coisa que nos restará serão lembranças de uma tarde de domingo passada no campo, antigo lar de nossas alegrias.

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