sábado, 13 de maio de 2006

À Todos Vocês


“Essa infeliz gente propunha planos para persuadir os monarcas a escolherem os seus validos em atenção à sabedoria, à capacidade e à virtude deles; para ensinar os ministros a consultarem o bem público; para recompensar o mérito, os grandes talentos e os serviços eminentes; para exercitar os príncipes no conhecimento dos seus verdadeiros interesses, colocando-os nos mesmos fundamentos em que assentam os do povo; escolhendo para os diversos cargos pessoas qualificadas para os exercerem; além de muitas outras quimeras fantásticas e impossíveis, cuja concepção nunca passaria pela cabeça de ninguém; o que me confirmou a velha observação de que não há nada tão extravagante e irracional que algum filósofo não tenha sustentado como verdade”.

Retirei este longo trecho do excelente livro “Viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift. O escritor faz uma crítica atemporal ao donos do poder, àquela época em sua maioria monarcas, mas que se encaixa perfeitamente à desiludida realidade política pela qual passamos.

Não distinguo o que mais me abate, ter arremessada em minha face a vilania de Brasília ou constatar que o povo brasileiro nada mais faz senão babar feito um ruminante frente ao absurdos expostos pela imprensa. Minha potência de mudança, antes ardente e irradiante, hoje se compara às brasas de um corpo cremado. Não mais me interessa os rumos da pátria, se é que isso existe, pátria.

Confesso que não exitaria um minuto sequer em tornar-me um ditador, caso tal proposta fosse-me ofertada. Puniria violenta e sadicamente todos os políticos, todos. Pois se uma parcela assalta os cofres do bananal, a outra se omite, ou quando se propõe a ir contra os ladrões é por puro interesse privado. Não existe o espírito público em nenhum dos que frequentam os palácios dos reis degenerados e rainhas prostituídas.

E que o povo não espere compaixão. Não a terá, pelo menos de minha parte. Cansei-me da imbecilidade, mesmo que fruto da carência de educação, o que poderia eximir a patuléia de culpa. A questão é que não confio no homem, animal medíocre que ao vislumbrar a mínima oportunidade de ganho entorpece-se, e assim a moral, a honradez, a virtude e a altivez são jogadas aos porcos.

Que estrupem o país, que matem, que sequestrem a glória prometida, que silenciem os justos e que elevem os estúpidos. Talvez, quando todo o mundo for habitado somente por apedeutas, bufões, patifes, traidores, cínicos, idiotas e toda a sorte de homens baixos, eles consigam destruir a nossa espécie e assim a natureza poderá se ver livre de sua criação deformada.

De agora em diante vou assentar-me e assistir, e sorrir, e comprazer-me com as desgraças de nossa vida. Não me interessa mais nada. A única obra que relegarei aos seres vindouros serão minhas fezes. E se acham meu texto ofensivo, esta é a intenção. Façam o que quiserem, parem de ler, corram atrás da pornografia, vão até a janela espiar a vida alheia, que é a prática preferida da maioria de vocês.

Quando acordarem deste sonho caído, quando conseguirem perceber o que é a vida, quando se derem conta do tamanho e das potencialidades de nossa mente, aí sim juntarei-me com extremo regozijo à nossa prole. Como a cólera me fere os olhos, creio não enxergar este dia nunca. Então, que tudo se exploda em infinitos cacos para que esta miséria nunca mais volte a acometer o mundo.

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