segunda-feira, 28 de abril de 2008

Las Lobas Ciendientes - P2


Não consigo abrir meu olho esquerdo, creio que os espinhos o furaram. A caminhada é um horror. O peso é enorme em nossas costas, em sua grande parte formado pelas roupas íntimas das Las Lobas Ciendientes. Elas estão cada vez mais irritadas, parece que algo não vai bem. O grupo ainda não sofreu nenhuma baixa, mas algo no ar está mais pesado que chumbo.

Permitam-me elucidar com extrema simplicidade um pouco da trajetória das Lobas. Na verdade, todas eram velhinhas simpáticas, que enchiam a mesa com gostosas quitandas, sucos, queijos, além de serem provedoras de almoço farto e saboroso, encorpado pelo sabor de antigamente. Todas eram avós, exceto Dona Bete, que perdeu o útero ainda jovem, complicação decorrente da ingestão de veneno de rato. Ela estava apaixonada, ele queria apenas um buraco quente.

Eis que certo dia Dona Clô decidiu organizar uma excursão para a Grécia. Velhinhas gostam de excursar pela Grécia. Conheço várias que já foram. Não sei o que as atraem tanto. Certa vez tentei pedir uma explicação ao Sandro, profundo conhecedor das cocotas, mas nem ele dominava esse mistério.

Pois bem, Dona Clô fechou um pacote com uma agência de viagens e pôs-se a telefonar, convocando todas as companheiras de buraco a passear pelo país dos deuses. Apenas cinco declinaram, e pagaram um preço alto por isso. Em outra oportunidade digo o que aconteceu.

E então, lá se foram todas as 31 velhinhas, felizes, confiantes, exaltadas. Estavam na verdade gozando de novo, depois de anos e anos. Algumas nunca tinham gozado, mas o fizeram no avião, rumo à Grécia.

Agora faltavam apenas algumas horas para que tocassem o solo de Apolo. Algumas já haviam tricotado toda uma coleção de inverno. Outras se distraíam jogando cartas e chupando pastilhas Valda, pois o pigarro, após anos de cigarro, é no mínimo inconveniente. Dona Cissa já mostrava a fúria que guardava no meio dos peitos caídos. Simplesmente pelo fato de não ter conseguido um copo com água de Israel, onde colocaria a dentadura, vociferou impropérios em direção à tripulação do avião, chegando inclusive a amaldiçoar uma aeromoça, que como toda aeromoça, era muito simpática e simpática. Disse: "Tomara que sua hemorróida estoure". Todos no avião se recolheram e procuraram desaparecer em sua paltrona. O prenúncio do que viria acabava de ser revelado, mas ninguém, naquele momento, conseguiu detectar o perigo.

Como sei de tudo isso? É simples, eu era um dos responsáveis pela excursão, trabalhava na agência de viagens. Fazia apenas um mês que estava lá, e em meu primeiro trajeto fui de mãos dadas com o demônio.

Continua...

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