sexta-feira, 10 de novembro de 2006

O Mosquito


Alguns dizem ser o leão. Outros, o búfalo selvagem africano. Existem ainda partidários do tigre, do tubarão, do rinoceronte, do urso ou até mesmo do ser humano. Eu, modestamente, elejo o mosquito como o ser mais corajoso e realizado que já habitou nosso planeta.

Pensem comigo. Num vôo que a primeira vista pode parecer desordenado, cambaleante, ele se aproxima. Alia coragem à sagacidade, pois só é realmente percebido quando toca nossa epiderme. O mosquito elabora um plano, nos rodeia e nos rodeia incansavelmente, e só depois da certeza de estar invisível, aterrissa.

Inutilmente, com movimentos tão morosos que chegam a ser patéticos aos olhos do pequeno inseto alado, tentamos golpeá-lo. Para o mosquito, nosso tamanho infinitamente superior não é problema. Ele não nos teme, pois tem a certeza de sua vitória. Armadilhas, por mais que nos esforcemos, não são suficientes para detê-lo.

Nossas mãos vão passando uma, duas, três vezes, rasgando o ar, e nada. O ínfimo ser não se deixa abalar. Insiste, vai e volta, até conseguir nos possuir. E ainda se posta de maneira jocosa, ridicularizando-nos, esfregando suas diminutas patas dianteiras assim como nós esfregamos as mãos quando vislumbramos algo de bom. Um autêntico sarcástico.

Ingenuidade de nossa parte achar que somos os habitantes do mais alto andar na evolução das espécies. A começar pelo fato de não possuirmos a habilidade do vôo. Bem, podem surgir questionamentos com relação aos pássaros, mas estes são medrosos, reticentes quanto a nossa presença. O menor sinal de aproximação já é motivo para alvoroço, para fugas ridículas. O mosquito não, pelo contrário, faz questão de vir ao nosso encontro, de nos explorar, de se empanturrar com nosso sangue ou com nossos alimentos.

No que se refere à reprodução, outro show do artrópode. Nós somos obrigados a encarar rodeios, teatros, uma série de encenações para enfim alcançar a cópula. O mosquito não, e justiça seja feita, todos os outros animais não. O ato é objetivado, e melhor ainda, estendido a várias parceiras num curtíssimo intervalo de tempo. Maravilhoso.

Para encerrar a discussão e confirmar a predominância do mosquito, este só possui uma semana de vida. Não é obrigado a permanecer nesta penosa jornada a que somos submetidos, não trabalha, não envelhece. Morre ainda no vigor da juventude e sua vida é feita única e exclusivamente de prazeres que são o vôo, o sexo e a apreciação de guloseimas mil. Ele não divaga, como agora o faço, não necessita de batalhas para provar sua bravura, não padece de traições ou crises psicológicas. Realmente um ser exemplar, pois simplesmente vive.

Se a oportunidade me for oferecida, quero ser um mosquito numa vida futura e simplesmente me alimentar, voar e amar!

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