quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

O Homen Adestrado


Dois animais. Um bípede, o outro quadrúpede. Um fala, o outro late. Um dá socos e pontapés, o outro morde.

Estão ali, parados, o cão e o homem, um preso em sua coleira de couro, o outro em sua coleira de idéias. O que o indivíduo tenta é adestrar os instintos originais do cachorro, fazer com que este siga prontamente suas ordens, pronunciadas em ríspidas monossilábicas. Cumprida a tarefa, o cão recebe uma gratificação e é arrebatado por um furor momentâneo.

A cada êxito, o amestrador deixa resplandecer em sua face uma alegria incontida, um orgulho vistoso, como se o mundo subitamente houvesse se rendido aos seus comandos. O sentimento de poder realmente embriaga, a condição de ditar entorpece.

Em um momento, por mais que o homem goste do cachorro, ou pense que goste, e trate-o de maneira digna, ele o rebaixa, o menospreza, o inferioriza. É o poder da técnica triunfando sobre a natureza. Bastaria um ataque para que o cão, que não era dos pequenos, estraçalhasse a carne de seu inquisidor. Mas não, em troca de uma recompensa das mais fugazes e, importante, devido também a uma vara, ele se submete.

Caso o cachorro, cujo nome era Tod, esboçasse a menor reação contrária, era ofendido por esta vara, não um galho qualquer, mas sim uma daquelas produzidas em escala industrial, manufaturadas exclusivamente para a punição. E desconfio que Tod era bem esperto, pois não foram necessários mais que dois ou três golpes para que ele seguisse resolutamente as ordens do “líder”. Ou seja, além de não apanhar ainda receberia um prêmio, situação bem mais vantajosa, não acham?

Está transcrito acima um cenário onde interagem um cachorro e um homem. Aparentemente nada demais. Com um pouco de imaginação, comparem agora esta situação ao que se passa em nosso mundo, em nossa sociedade, na relação entre os homens. Em minha irrelevante opinião, a semelhança chega a ser sombria.

Realmente é necessário pensar em que mundo vivemos, o que queremos e o que podemos fazer para aperfeiçoá-lo, porque já habitamos as bordas do insustentável.

Não se deixem dominar por sensações rasas que evaporam-se de suas memórias tão rápidas quanto um flash, não coloquem seus espíritos à venda!

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