segunda-feira, 16 de março de 2009

Parada: Lençóis Maranhenses - P2

Como já disse, consegui realizar a travessia do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses - sua área total é maior que a cidade de São Paulo, com mais de 150 mil hectares. A caminhada dura três dias, partindo de Atins com destino a Santo Amaro. A foto é do alto da primeira duna do Parque, pelo lado leste, e mostra um dos biomas que circundam os Lençóis. Dessa posição, à esquerda, está o mar, e atrás, o mar de dunas, que vocês verão adiante. Paguei R$ 100 para fazer o passeio, isso porque conheci o guia, Maciel, em Barreirinhas e após alguma conversa consegui esse preço. O cara é gente fina. Normalmente, a diária do passeio é R$ 120.



No primeiro dia de caminhada enfrentamos uma jornada de sete horas, sendo que a maior parte do caminho é feita pela praia que separa as dunas do mar. Na foto, um dos vários cursos d´água que desaguam na praia, vindos dos Lençóis. Nessa época ainda chove bastante na região, o que forma as centenas de lagoas do Parque. Elas ficam completamente cheias somente em junho, e assim permanecem até agosto e setembro.



Caminhada pela praia.


Andando pela praia pode-se avistar várias cabanas de pescadores. Eles chegam a passar meses morando nessas casas improvisadas, pesacando diariamente. As cabanas ficam abertas e são perfeitas para se esconder da chuva, que chega de repente. Caso tenha sorte, pode-se encontrar um pescador descansando na rede e assim comer um peixe assado na hora, ainda com cheiro de mar.


Após sete horas caminhando, chega-se então a Baixa Grande, nome do primeiro oásis dos Lençóis. A casa da foto é do Sr. Moacir, nascido lá, um daqueles sujeitos muito simples, mas com uma inteligência de se admirar. Ele vivia reclamando dos agentes de turismo que vez ou outra avaliam as condições de sua hospedagem. Segundo o Sr. Moacir, eles exigem frescuras como biscoitinhos, queijo, goiabada e outros requintes no café da manhâ para que enviem turistas até lá, produtos só encontrados a sete horas de caminhada. Detalhe: carros não chegam ao oásis, e quando as lagoas estão completamente cheias, o Sr. Moacir é obrigado a atravessar nadando com os sacos de compras na cabeça, uma trabalheira do cão. A estada lá foi ótima, pois o anfitrião tratou de providenciar duas galinhas caipiras (chamadas por eles de "capão") para o jantar que foi qualquer coisa de espetacular. Nosso guia, Maciel, é sobrinho de Moacir. Explicarei a história dos oásis adiante.


Sr. Moacir.


Barracão onde armamos nossas redes na Baixa Grande.



Rio Negro, que corta o oásis da Baixa Grande. Esses oásis têm vegetação formada predominantemente por cajueiros, com vários cursos d´água permanentes. Já no restante dos Lençóis, a água só existe em determinado período, como já foi explicado antes.



E aqui apresento Bibita, o xodó do Sr. Moacir. Ele diz que sua esposa, que não estava presente enquanto estivemos por lá, não gosta dela. Também pudera, a cabritinha é tão bagunceira quanto uma criança, sobe na mesa, morde tudo que encontra a sua volta, enfim, é saliente a danada. E tem mais, ela come com os hóspedes. Essa escapou de virar churrasco, pois segundo o Sr. Moacir, só a morte os separarão.



O segundo dia de caminhada é mais leve, apenas três horas de passadas para se alcançar o oásis chamado Queimada dos Brito (foto). Nesse caminho, bem no coração do Parque, encontram-se as primeiras lagoas mais cheias, cujas fotos estão mais abaixo. O nome se deve à única família que vive tanto em Baixa Grande quanto na Queimada, os Brito, segundo me afirmou Maciel. O seu avô, Manoel Brito, espalhou filhos pelos dois oásis há muito tempo, e até hoje muitos deles vivem no local. O Sr. Moacir, um desses filhos, que vocês já conheceram, mudou-se para Santo Amaro, viveu por lá dois meses e voltou. "Não gosto de cidade", disse, isso porque Santo Amaro tem pouco mais de 10 mil habitantes. Não há luz nos oásis, a água vem de poços artesianos e a diversão é jogar sinuca e beber vinho de caju e tiquira, uma bebida demoníaca feita da mandioca, muito mais forte que cachaça. Passei dois dias de carnaval na Queimada dos Brito.



Queimada dos Brito.



Casa em que armamos a rede na Queimada. Ela é de propriedade do primo do Maciel, Bargado, peça raríssima. Sua casa recebe gente a todo o momento, pessoas vindas de todas as partes do Parque, não só dos oásis mais próximos. Além da Baixa Grande e da Queimada, há outros oásis nos Lençóis que abrigam outras comunidades compostas por diferentes famílias. A questão das famílias é importante, pois somente nativos podem viver no interior dos Lençóis, visto que a área é uma reserva ecológica.



Uma questão chamou minha atenção. As dunas estão cobrindo os oásis com uma rapidez enorme, conforme me disse Bargado. A foto acima ilustra bem o fenômeno. Outros oásis não se formam em contrapartida, assim, daqui a algum tempo, os Lençóis terão somente dunas. Todos os familiares de Maciel, os Brito, já têm casa ou em Barreirinhas ou em Santo Amaro, para quando forem obrigados a se mudar. O movimento das dunas é um processo natural, mas o constante fluxo de caminhonetes e quadriciclos no interior do Parque, transportando turistas de um lado para o outro, tem acelerado esse processo em demasia. É proibido qualquer tipo de veículo no interior dos Lençóis, mas segundo me disse uma funcionária do Ibama lotada em Atins, grandes calibres faturam alto com esses veículos, de juízes a políticos, assim tudo fica como está. Graças que, por ser época de baixa temporada, não cruzamos com nenhum veículo no meio das dunas.



Queimada dos Brito.



Túmulo do Sr. Manoel Brito, o homem que foi dono das terras dos dois oásis apresentados. Seu corpo está enterrado na Queimada.



Queimada dos Brito.


Queimada dos Brito. Como todas as pessoas que vivem no local são da mesma família (cerca de vinte núcleos familiares) é normal o casamento entre primos, aliás, a única possibilidade para os que decidem permanecer nos oásis. Maciel disse que até hoje nenhum descendente da família nasceu com problemas devido ao casamento entre consanguíneos.



Café em família. O sujeito em pé é tio do Maciel - que está na ponta da mesa, ao fundo - com o qual tivemos uma prosa legal, regada a graviola do pé e um excelente café. Os outros na foto fizeram a travessia comigo, sendo que eu só os conheci no início do passeio. Fui encaixado pelo Maciel no grupo de caminhada deles. A galera gente fina vive em São Luis.



E finalmente apresento-lhes Maciel, o guia, sósia do Sideshow Bob, dos Simpsons. Não é cara de um e focinho do outro?

Queimada dos Brito.




Por fim, enfrentamos um dia com mais sete horas de caminhada até Santo Amaro, cidade onde termina o passeio. Abaixo, várias fotos dos Lençóis e suas lagoas mais que belas.

























A chegada.

2 comentários:

Mariana de Lima e Silva disse...

tenho pena das minhas fotos quando vejo fotos como as suas na net. As cores!

Ricardo Sena disse...

Amigos,

Estarei nos Lençois no dia 01/08 e pretendo fazer a travessia (Sto Amaro x Atins). Alguém se predispõe a se unir nessa jornada ?

Meu Contato: photosena@gmail.com