sábado, 14 de fevereiro de 2009

O Círculo Perfeito

Há cerca de 50 dias iniciei esta viagem, que viria a se tornar uma experiência definitiva em minha vida. Guardava a plena noção de que minha condição em Belo Horizonte não estava à altura do que busco enquanto ser humano.

Trabalhava, me divertia e grandes problemas não me afligiam. Mas algo andava às avessas. Um incômodo espinho alertava-me para a vida ruminante que levava. Eu apenas remoía as migalhas que o mundo oferecia. Se continuasse daquela maneira, não teria nada do que orgulhar-me quando as cicatrizes da experiência chegassem.

Caros, não basta ser bem sucedido profissionalmente, não basta viver confortavelmente, não basta cercar-se de produtos, não basta fazer tudo que os outros fazem e ser apenas mais um miserável que por aqui passará sem deixar traços. E aqui não trato de fama, mas do simples fato de morrer tendo a noção exata de que sua vida valeu a pena.

Qualquer um que viva de uma maneira condizente com seus ideais certamente será marcante, para o bem ou para o mal. Já os replicadores da mediocridade apenas baterão palmas ou criticarão, no entanto nunca serão os atores principais da peça dirigida pela vida.

Muitos devem pensar ser loucura cortar as cordas de um barco ancorado em um porto seguro. Pois loucura é não procurar um porto ainda maior. A inação estimulada pela comodidade é veneno mortal. Decidi que meu barco navegaria em alto mar, correndo o risco de enfrentar maremotos, ondas gigantes e banzeiros. Mas a navegação guiada pela autonomia tende sempre a nos levar até o conhecimento, substância elementar para se compreender a beleza do mundo.

Não tenho a mínima idéia do que farei quando retornar. Sinceramente, não me importa. As experiências que tenho vivido, as quais carregarei em meu alforje até o último e sublime momento, têm valor incalculável. Sinto-me cada vez mais valente. Corajoso o suficiente para encarar minhas contradições e distorções, meus pecados capitais, minhas desavenças com a normalidade. E um homem que não tem medo de suas linhas tortas pode, com o tempo, realizar um círculo perfeito à mão livre.

Joguei-me Brasil adentro sozinho, pois assim a mente trabalharia melhor na cura do espírito. E é o que tem acontecido. A renovação por que passa minha carne é algo intenso, ante a insalubre contaminação provocada por um cotidiano maçante, insosso, previsível, pequeno. A energia da terra corre sem medo pelo meu corpo e traz consigo uma pureza que até então não sentira.

Enquanto isso a vida corre sonolenta fora deste sonho que vivo. Enquanto isso pessoas insistem em trapacear. Enquanto isso seres humanos insistem em se mostrar super-heróis. Enquanto isso as regras do jogo vão sendo mudadas e denegrir, invejar a aviltar tornam-se valores maiores que admirar, sustentar, querer bem.

Eu renunciei há muito desse jogo que só faz definhar a humanidade. Prefiro ocupar meus dias com ações que enriqueçam minha jornada, que me dêem satisfação, que me deixem orgulhoso de minhas escolhas. Meus ouvidos estão fechados para tolices, para maledicências que objetivam unicamente desviar-nos de nosso foco. Ao diabo tudo isso. Estou aqui para algo maior e não tenho tempo a perder.

Tenho a arma do desprezo apontada para a miserável existência que alguns insistem em levar. E sua munição é letal.

Para os que têm a coragem de viver à altura da dádiva que receberam meus parabéns. Para aqueles que simplesmente acordam e dormem, ou, em alguns casos, apenas dormem, não tenho nada a dizer. Continuem assim, vocês deixarão mais espaço para os que têm alguma tarefa a realizar nesse mundo.

6 comentários:

Anônimo disse...

Interessante observar o quanto uma viagem,uma mudança de ares, um desanuviamento das idéias pode mudar o homem.Como pode melhorar seus pensamentos sobre si ou sobre o seu horizonte.Interessante observar como até o foco de seus textos mudou.Passou de observassões de um cotidiano a reflexões sobre você e a sua parte nesse cotidiano.Passaram a ser mais profundos, intensos.Penso no quanto que esses nem 60 dias irão influenciar,irão te melhorar como ser humano.Como irão te lapidar.Ajudar.
E isso tudo que te digo, é só pra justificar o quanto seu texto me influenciou, caro.
Me senti justamente o peão do jogo.Me senti justamente o miseravel, o filho da puta que você condena no texto.E tal como você, não quero mais ser esse miseravel,esse mediocre.
Espero que eu não demore muito para encontrar o meu jeito de me desvirtuar desse canalha em quem estou me transformando, assim como você encontrou.
Por isso meu amigo, meu caro amigo,muito obrigado.O pontapé inicial da auto-avaliação está dado.

quantoaisso disse...

thobias,
vc sempre me surpreende!
concordo tanto com tudo que vc disse que não tenho mais uma palavra a acrescentar!

viva essa viagem do melhor jeito que você puder e eu estarei aqui esperando pela volta dessa nova pessoa! sei que os casos serão infinitos para serem contados. fora os outros, que nem chegarão a esse nível!

Frederico disse...

zubias,

concordo plenamente com suas palavras.
só acredito que faltou vc mencionar que, dentro da sua opção, de tão nobre, existe o apoio incondicional à liberdade de escolha de todos os seres humanos, inclusive a de escolher viver de forma diferente da sua.

a beleza tá na diversidade ;)

estamos juntos,

fredão

Anônimo disse...

Thobias,
as suas “desavenças com a normalidade” são a síntese do quão especial você é. Adoraria ter escrito esta frase, mas é de Jung: “Ser normal é o ideal dos que não têm êxito, de todos os que se encontram abaixo do nível geral de adaptação”.
E, quanto a “ir atrás de um porto ainda maior”, espero ter conseguido – suavemente – participar desta tripulação.
É preciso saber perder, para dar valor ao ganhar, desapegar-se… para depois reconquistar.
Espero você para contarmos em detalhes esta e outras estórias.
Bjs,
Aline

Sandro Almeida Santos disse...

Só vou dizer uma coisa:

nascer, crescer, comer, dormir, reproduzir, enlouquecer e morrer...

Anônimo disse...

Essa pulga atrás da orelha...hum...
Acredito que depois da mente liberta, não há caminho de volta.
Respire fundo Thobias e deixe o ar entrar... porque todo dia nasces outra vez.

hasta