quinta-feira, 29 de maio de 2008

As pulgas


Esse nosso país é um verdadeiro circo. É uma beleza. Pois bem, primeiro leio que um deputado acusado de participação direta numa quadrilha que desviava (ou desvia, vá saber) recursos públicos agindo no BNDES. Esse nobre senhor disse que tudo não passa de conspiração, “perseguição implacável das elites”. É fato, existe uma perseguição, a dele correndo desenvolto em busca dos manteigosos recursos públicos.

O nobre teve aberta uma representação contra sua pessoa no Conselho de Ética da Câmara Federal. Conselho este que elegeu seu novo presidente ontem, dia 28 de maio. E não é que o mais novo zelador da ética no parlamento tem três processos correndo soltos no Supremo Tribunal Federal? Eu quero saber onde estou, porque assim já é demais. O presidente do Conselho de Ética é réu em TRÊS processos? E não importa o conteúdo das denúncias, tal cargo merece ser ocupado por alguém de reputação ilibada, tão limpo quanto os panos de prato de minha mãe.

Fechando com chave de ouro, o distinto soltou esse torpedo: “Cachorro que não tem pulga, ou já teve ou vai ter”. Entendi assim: “Político bom, ou já roubou ou vai roubar”. O pior é que ele tem razão.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A Sonda Espacial


Leio que uma sonda espacial, chamada Phoenix, pousou no solo marciano no último domingo, dia 26 de maio. Lançada em 4 de agosto de 2007, ela rasgou o universo por 680 milhões de quilômetros até colocar suas patas metálicas na superfície do planeta vermelho. O motivo da visita? Confirmar a presença de água em Marte, uma vez que os cientistas acreditam que ela esteja a 10 centímetros da superfície, congelada. Encontrando água, a possibilidade de que haja vida é enorme.

Uma pergunta me vem à cabeça: e se forem encontrados resquícios de vida lá, em Marte, o que acontecerá? Porém, a vida extraterrena em si não é minha maior preocupação. Me delicia a análise de como será recebida a notícia aqui. Pois, se for confirmada a presença de vida em outro planeta, teremos que reconstruir nosso modus operandi social.

O primeiro golpe seria desferido contra as religiões. Todas elas, sem exceção. Todos se perguntarão, “mas se há vida em outro planeta, não somos os únicos agraciados pelas divindades com o presente do nascer”. Boom! Milhares de anos de crenças, mitos, dogmas, ensinamentos, tudo aniquilado por uma Phoenix, que assim como o pássaro dos mitos gregos, nos fará renascer das cinzas. Sim, pois caso se confirme a existência de microorganismos lá, nós, os microorganismos daqui, perderemos a condição de preferidos de Deus.

Todos se questionarão se realmente o paraíso é reservado somente aos humanos ou se teremos que dividir a atenção Dele com seres estranhos dos quais não sabemos absolutamente nada. O homem se verá obrigado a largar a arrogância de lado e a pensar de um jeito totalmente diferente. Teremos que abdicar de nosso nariz empinado, a força dos fatos comprimirá o ego e a arrogância daqueles que se consideram únicos. Seremos obrigados a nos aceitar iguais a uma samambaia, a uma minhoca, a um rato que passeia livremente entre nossos excrementos.

O que dirão os padres aos fiéis que os procurarão ávidos por uma resposta, “mas padre, Deus não nos criou à sua imagem e semelhança? Como Ele pode ser o pai daquelas criaturas também?”, dirão, ofegantes, beatas em completo desespero por perceberem que foram enganadas pela única entidade que nunca poderia fazê-lo, Ele.

Os protestantes também sofrerão as conseqüências do exame de DNA que começa a se desenrolar em Marte. Eram crédulos de que o paraíso estaria garantido para aqueles que dessem duro aqui, nessa extenuante labuta diária do viver. Descobririam que seria necessário dividir o espaço com seres talvez amorfos, talvez verdes, talvez com dois olhos na sola do pé, talvez gosmentos, sabe-se lá. A abdicação de prazeres terrenos em troca do trabalho visando uma boa cadeira no paraíso seria tão útil quanto revistas de celebridades.

Obviamente as igrejas iriam negar tal fato, manteriam a convicção de que Deus nos fez e a só nós. Sustentariam que ainda somos os preferidos, que o paraíso, assim como o inferno, continua lá, de portas abertas para os filhos do Homem. Mas seria cada vez mais difícil sustentar tal tese.

As crianças aprenderiam desde cedo que a vida está espalhada por todos os poros do caldo negro chamado universo. Teriam a certeza de que não são únicas e que nada nessa vida foi feito sob medida para elas, vivendo assim numa tranqüilidade que até hoje não foi vista. Respeitariam naturalmente as outras criaturas, sem ao menos necessitar de aulas de educação ambiental. Seriam ousadas, permitidas a imaginar não mais somente o que a terra tem a oferecer, mas sim o que as galáxias podem nos trazer. E não teriam medo de castigos póstumos, assim como não aceitariam a idéia de que um mundo encantado as espera assim que seus olhos se fecharem para sempre.

Gostaria de continuar a desenvolver a idéia, fica para a próxima. De qualquer maneira, se tudo que conjecturei realmente fosse acontecer dessa maneira, teria uma alegria jamais sentida assim que lesse nas manchetes dos jornais: “Sonda espacial Phoenix encontra prova de que Marte possui vida”.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O antigo lar de nossas alegrias


Acabo de ler que o automobilismo superou o futebol na atratividade de patrocinadores e investidores. A matéria está disponível no site da Gazeta Mercantil.

Segundo a matéria, entre as causas está o amadorismo com que o público amante do esporte bretão é tratado. São indicativos dessa situação o suplício vivido pelos torcedores em filas de ingresso, a falta de segurança nos estádios, a ausência inclusive de ídolos nos campos brasileiros. O estudo conclui que o futebol não sabe se expor como um espetáculo, como o faz o “circo” da Fórmula 1, para citar a maior categoria automobilística do mundo.

E as conclusões parecem óbvias. Nas pistas, tudo é armado para que o show aconteça, pilotos são verdadeiras celebridades, bravos deuses da velocidade, desafiadores dos limites humanos, seres apartados de nós, meros mortais. No futebol, alguns personagens são exóticos, alguns considerados ingênuos, até mesmo bobos e incapacitados. Muitos são motivo maior para comentários de cunho pessoal ao invés de profissional.

O dom da bola vem perdendo a vivacidade, enquanto o brilho do volante cega cada vez mais os meios de comunicação, por conseguinte, o espectador. Nossos pilotos sempre brilharam em terras distantes, nossos jogadores passaram a reluzir com tamanha intensidade lá fora só na década de 1990. Sentimos falta daquela trivela, daquela gaúcha, daquele golaço de bicicleta, jogadas que hoje são monopólio dos campos europeus. Patrocinadores não querem se vincular a campeonatos subalternos. Querem estar ao lado dos melhores.

O estudo chega a suas conclusões medindo a adequação ao público masculino e feminino, faixas etárias, geração de consumo, visibilidade na mídia e agregação de tecnologia e status.

Somente no critério de visibilidade na mídia o futebol pode vangloriar-se, visto que predomina em nossos meios de comunicação ante qualquer outra modalidade. Ainda assim, essa indústria esportiva não consegue se aproveitar de maneira efetiva e rentável dessa vantagem.

E de quem é a culpa? De todos nós. Diretamente, dos ratos da grama que há anos enchem os bolsos com as negociações escusas que inundam os porões do soccer. Indiretamente, de nós, torcedores, que não nos preocupamos tanto assim com o que se passa em nossos clubes, que legitimamos gestões de dirigentes que, apesar de serem claramente incompatíveis com a boa governança empresarial – sim, o pensamento de um clube-empresa é primordial para que qualquer passo mais ousado seja dado – conseguem títulos e embebedam a torcida com alegrias fugazes, que podem gerar tristezas eternas.

Falo isso e vejo claramente o Atlético-MG – por sinal, meu time de coração – que se encontra em uma situação muito pior na verdade, pelo fato de ter sido pilhado durante décadas e isto não ter gerado retorno algum para o clube, sequer um título de maior importância. Hoje colhemos os frutos, ou melhor, os frutos nos são enfiados goela abaixo.

Não sou muito afeito a escrever sobre o futebol. Acho chato, apesar de gostar muito de uma boa disputa travada em mesas de bares. Escrevo para mostrar que a lanterna vermelha já está acesa há muito. Minha preocupação com clubes que ainda hoje acham que o futebol é apenas uma paixão, relegando a parcela empresarial para um segundo plano, é grande. O receio de ver extintos símbolos tradicionais de nosso esporte de alma é real. O mundo muda e inunda.

Há 100 anos assistimos o domínio do futebol ante outros empreendimentos esportivos. Isso não quer dizer que a fonte será eterna. Se hoje, com a predominância em matéria de audiência, vários clubes vivem de migalhas, não conseguindo sequer quitar salários em dia, imaginem quando o esporte preferido for o automobilismo, ou o tênis, ou o vôlei ou qualquer outro. O negócio vai ficar preto e a única coisa que nos restará serão lembranças de uma tarde de domingo passada no campo, antigo lar de nossas alegrias.

Um belo horizonte


Uma hora de folga no trabalho, uma janela aberta, uma olhadela descompromissada e um click. Está pronto!

domingo, 11 de maio de 2008

Las Lobas Ciendientes - P3


Vocês devem estar se perguntando como um grupo de velhinhas, que supostamente queriam apenas viajar pela Grécia, se transformariam numa milícia das mais aterrorizantes do mundo. Eu também estou, pois até hoje não consegui compreender tal aberração.

Relato o dia em que descobri que minha sorte havia acabado. Fazia um calor saárico (perdão pelo neologismo barato), minha camisa estava ensopada e meus odores já tomavam conta daquele táxi. Estávamos no veículo eu, Dona Cissa, Dona Léia e Dona Marta. Rumávamos para a Acrópole de Atenas, local de visitação obrigatória. As outras velhinhas seguiam na van disponibilizada pela minha empresa. Porém, as três senhoras exigiram que o deslocamento fosse realizado em um táxi.

Num primeiro momento fui totalmente contrário à idéia, visto que o gasto com transporte já estava calculado e fechado. Um táxi alteraria a contabilidade prevista e certamente meus superiores introduziriam suas maldades em minha intimidade quando soubessem que fiz a empresa gastar mais que o necessário. Disse não, não e não. De nada valeu.

Dona Clô aproximou-se e sussurrou em meu ouvido:

- Escute menino. Estas três companheiras não andam em vans, de maneira alguma. Elas se sentem desconfortáveis com este meio de transporte, creio que se trata de um trauma de longa data. Dona Cissa, quando ainda guardava o frescor da juventude em seu ventre, foi violentada dentro de um veículo assim. Dona Léia perdeu seu marido num acidente automobilístico, ele era motorista de van. Já Dona Marta não gosta de vans porque acha que este é um meio de transporte não compatível com sua classe. Então, trate logo de atender o pedido e providenciar um táxi, antes que todas nós desistamos dessa viajem e rumemos de volta, sem completar o pagamento do pacote. Você não iria gostar disso, iria? Imagine seus chefes então...

- Mas Dona Clô, não posso fazer isso, não tenho autorização para atender tal demanda, não há como.

- Cale-se garoto e mova-se. Queremos chegar à Acrópole com o sol ainda vivo.

Tentei dialogar por mais vinte minutos, mas de nada adiantou. Dona Clô e as outras mostraram-se irredutíveis. Apesar deste contratempo, a desconfiança até então não havia nascido, pensei se tratar apenas de caprichos da terceira idade. Porém, naquela tarde viria a descobrir o porquê daquele táxi e quão importante ele seria para a execução do plano brutal e maligno que ali se desenrolava.

A barbárie das Lobas começaria a ganhar proporções gigantescas, e ninguém havia conseguido antever aquele monstro em gestação. Deus não poderia fazer nada, ele não foi convidado para aquele ato.
Continua...

Não é bem assim


"O Brasil é maior do que sua mídia, do que sua imprensa. Maior do que São Paulo, Rio, Brasília. Maior do que PT e PSDB. Maior do que Lula, Dilma, Agripino e dossiê. Mas continua um gigante sonolento quando quem sofre é o pobre, a periferia. Acorda, Brasil!".

Retirei este trecho da coluna de hoje de Eliane Catanhêde, publicada na Folha de S.Paulo (aqui, para assinantes).

Tentei evitar ao máximo tratar do já desgastado caso da menina que voou de seu confortável quarto de classe média em São Paulo para as primeiras páginas de todos os jornais do páis. Mas Eliane toca num assunto que já vi muitos comentarem: isso acontece todo dia no Brasil, mas só é divulgado quando se dá em tetos estruturados, acima de qualquer suspeita, causando uma comoção profunda no coração das gentes que pensam que o mundo é uma Disneylândia.

Concordo em parte com o argumento. Explico. É mais fácil achar razões para o absurdo quando um pai drogado, semianalfabeto e desempregado arremessa seu bebê de 11 meses na parede em decorrência de uma crise aguda causada pela abstinência de drogas do que quando um casal supostamente estruturado bate, estrangula e joga sua filha de cinco anos pela janela, segundo o inquérito policial.

A barbárie se torna mais chocante à medida que menos razões existam para que ela aconteça. O vôo de Isabela, em minha opinião, guarda uma maior relevância jornalística que o primeiro justamente por isso. Daí a compactuar com o espetáculo montado em torno do crime são outros quinhentos.

Porém, caso eu fosse editor de um jornal, não teria dúvidas que o alto da primeira página seria reservado ao caso Isabela. É imprescindível deixar claro que, penso eu, ambos acontecimentos mereçam ser noticiados pela mídia e debatidos pela sociedade. São duas atrocidades que têm "relevância na pele lisa da história", de acordo com o velho chavão aprendido na faculade de jornalismo para classificar o que é notícia ou não.

O que não concordo é que o jornalismo seja explicado pura e simplesmente pela tese rasteira de que quando a elite é espinhada, a imprensa se preocupa. Quando os afetados são os desdentados, a mídia vira as costas e vai tomar sorvete na pracinha. Em parte isso acontece, mas nem sempre.

Muitos veículos sérios cobriram a morte de Isabela de maneira correta. E estes mesmos veículos também cobrem chacinas em favelas, prisões indevidas de indivíduos 2P (preto e pobre), mortes em filas de hospitais e por aí vai.

Reforço meu argumento. Não é salutar tratar a imprensa de maneira generalista, colocando todos no mesmo saco. Nenhum setor age de maneira uniforme, muito a menos a mídia. Assim como em todas as áreas, temos no jornalismo exemplos bons e ruins. Devemos é desenvolver um filtro que nos indique os caminhos da imprensa de alto padrão.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Fome por Dinheiro


Reproduzo abaixo alguns trechos de um texto do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, que trata da atual crise de alimentos que assola o planeta. Leiam com atenção. Crédito à agência Carta Maior.

"A opinião pública está a ser sistematicamente desinformada sobre esta matéria [ a crise dos alimentos] para que não se dê conta do que se está a passar. É que o que se está a passar é explosivo e pode ser resumido do seguinte modo: a fome do mundo é a nova grande fonte de lucros do grande capital financeiro e os lucros aumentam na mesma proporção que a fome".

"Estes aumentos especulativos, tal como os do preço do petróleo, resultam de o capital financeiro (bancos, fundos de pensões, fundos hedge [de alto risco e rendimento]) ter começado a investir fortemente nos mercados internacionais de produtos agrícolas depois da crise do investimento no sector imobiliário."

"Nos últimos meses, os meses do aumento da fome, os lucros da maior empresa de sementes e de cereais aumentaram 83%. Ou seja, a fome de lucros da Cargill alimenta-se da fome de milhões de seres humanos."

Concordo inteiramente com as palavras de Boaventura. Ele é um pensador de esquerda, carrega consigo seus defeitos, mas, não há dúvida, é mais bem informado que nós. E consegue enxergar nas brechas do mundo.

Faz todo o sentido a sua tese. Grandes conglomerados, como a citada Cargill, são empresas criminosas. Procurem se informar sobre o que a Cargill anda fazendo na Amazônia. Há acusações de que a empresa expulsa pequenos agricultores de suas terras, valendo-se de jagunços, para expandir sua plantação de soja na região. Ativistas entram em confronto com seus seguranças diariamente nos portos da Amazônia para evitar o embarque da produção que, ao meu ver, pode ser classificada como ilegal, visto o local e a maneira como é executada.

Realmente, isso não chega até nossos olhos.


Obrigado

Meus caros, desisto.

Ate mais!